26 abril 2006

A vez do desenvolvimento. Sustentável.

A gestão como ela deveria ser.

The PricewaterhouseCoopers' report "Corporate Responsibility: Strategy, Management and Value" recognises that environmental and social leadership will be essential to business success in the 21st century. The authors of the report see six major trends that will lead to greater commitment of industry and business to sustainability:

- global markets will play a much bigger part than government policy in the decision-making process of companies, especially in the form of shrinking supply and growing demand for natural resources; labour and distributions costs or environmental and health legacies;
- the financial model of current decision-making (in governments and business) will be revised to include new scenarios, new data and new risks; it will incorporate a growing number of intangibles and non-financial issues;
- innovation will be key, but will be more than technological: changes in our behaviour, geopolitical structures and product design and development;
- globalisation will diminish the role of the state; this will not be easy and sometimes driven by disruptions such as increasing pressure on scarce resources, changing patterns of global demand or growing awareness that we are a global community;
- progress towards sustainability will be incremental, not revolutionary but specific catalysts may cause sudden disruptions and spurts of great change ;
- the global media will play a big role in awareness-building.


Cordão humano virtual

É comercial. Mas é giro.

Curva ascendente

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económicos (OCDE) publicou este mês os resultados do seu inquérito anual à economia portuguesa. O resumo do documento aponta os principais desafios que o país enfrenta: a sustentabilidade das finanças públicas; o desempenho do sistema educativo; a modernização da economia através da educação para o sector terciário, da formação de adultos e da inovação; a criação de um ambiente empresarial mais dinâmico e consequente melhoria do funcionamento do mercado de trabalho.

Simples, não??

Pontos de ordem

Factos públicos e comprováveis - para aqueles que gostam de se deixar levar na turba do urro colectivo:

1 - Não foram os adeptos do FC Porto que invadiram o campo no passado sábado antes determinar o Penafiel-FC Porto. Foram alguns elementos da claque dos Super Dragões.

2 - Um clube que jogue na liga principal do futebol profissional português deve ser capaz de assegurar as condições físicas minímas e indispensáveis à prossecução do espectáculo desportivo, com segurança e conforto para praticantes e público.

3 - O Penafiel arrecadou meio milhão de euros com o jogo de dia 22. Gastou seis mil euros a colocar uma bancada amovível. Cinquenta metros de grades nos topos não deviam, sequer, custar outros seis mil.

4 - A Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) é responsável pela verificação das condições em que se realizam jogos considerados de risco acrescido e pela consequente garantia junto dos clubes desportivos do cumprimentos das mesmas.

5 - Frase ouvida a um elemento do corpo de intervenção da GNR, às 18h00, ainda no exterior do estádio: "Somos poucos, porra, somos muito poucos."


Opiniões pessoais e intransmissíveis - para esclarecer a posição da administração do BN quanto à questão:

6 - O jogo devia ter sido anulado após a primeira invasão de campo, com o Penafiel a conquistar, na secretaria, os três pontos em jogo.

7 - A claque dos Super Dragões (à falta de equipamento de segurança que permita identificar individualmente os transgressores) devia ter sido banida do Estádio do Dragão durante os próximos seis jogos do FC Porto em casa.

8 - O FC Penafiel devia ter sido multado pela LPFP por não ter sido capaz de garantir a integridade física dos intervenientes no jogo de sábado.


Sugestões práticas e lógicas - para tentar sanar as baboseiras que se têm ouvido nos últimos quatro dias:

8 - Não sejam básicos. Viajem. Conheçam gente de outras cores. Entrem em igrejas de outros credos. Comam comida confeccionada sem sal, azeite, cebola e alho. Visitem sinagogas, óperas civilizadas e tendas berberes. Tirem as palas dos olhos e percebam que há mais mundos no mundo.

9 - Usem do conceito de perspectiva. Aka "think outside the fucking box".

Tomemos a questão da pronúncia como exemplo e partamos para alguns exercícios de principiantes:
A) Quem tem sotaque na língua portuguesa? Nã
o poderão ser os dez milhões de portugueses que não seguem a pronúncia dos 188 milhões de brasileiros?
B) Quem pronuncia correctamente a letra "v"? Os dois terços de portugueses que não vivem no Norte do país, ou os 425 milhões de hispânicos que unificam "v" e "b" nos fonemas [b] e [ß] e não têm, sequer, o som [v]?

A regra da maioria não serve?
C) Serão os falantes da língua mais próximos da sua origem aqueles que melhor a articulam? Por que regiões geográficas se manteve o latim mais impoluto e incorruptível às influências bárbaras?

Ou a regra da senioridade também não é válida?
Articulem argumentos, por favor. E cuidado, muito cuidado, com os todos que se transformam em partes com uma simples mirada para além do horizonte do aparador da sala...

10 - Em último recurso, admitam que, assim como "nós", os tripeiros, somos todos bimbos grosseiros, de pêlo no joelho, sotaque manhoso e decibeis exagerados na voz, "vocês", os alfacinhas, são todos preguiçosos encapuçados, de verniz corrupto, postura afectada e inutilidade disfarçada. Ridículo, verdade?


Prémio: A puta do ano!

Nuno Santos: «Tentei ajudar o meu Sporting»

Nuno Santos, guarda-redes do Penafiel, foi um dos jogadores em destaque na sua equipa, mas não conseguiu evitar a derrota. A sua intenção era ajudar o Sporting, clube com quem tinha ainda ligação contratual:

«Estava a tentar ajudar o meu Sporting indirectamente, mas principalmente dignificar o clube, que é o Penafiel, que tem excelentes jogadores e um grande staff. Não merecíamos a descida. Gostava de ter tido um resultado mais positivo para ajudar o Sporting e, se eu sempre acreditei que o título era possível, porque não os jogadores do Sporting? Mas agora é impossível.

Como se sentiu na festa do título do F.C. Porto? «A sensação é péssima, que eu e os meus colegas não gostávamos de ter tido, mas infelizmente aconteceu. O Porto é um justo campeão, mas pelo que fez aqui, principalmente no golo, porque não é penaly, penso que o resultado mais justo seria o empate. Temos de felicitá-los. Que gozem, como eu já gozei quando fui campeão pelo Sporting».


Extemporâneo, mas necessário

Disseram eles:

"O único golo do jogo chegou aos 47’. Ibson entrou na área e Nuno Diogo tocou-lhe no pé, embora de forma subtil. Há árbitros que não marcam estes penáltis, mas Augusto Duarte marcou." O Jogo

"46' - Grande penalidade para o FC Porto, por falta de Nuno Diogo, num lance que deixa dúvidas. O defesa vê o cartão AMARELO, pois o árbitro considerou que tocou em Ibson quando este tentava o remate." Record

"AUGUSTO DUARTE (3) - Tudo muito certo com o árbitro bracarense, até ao momento em que detectou falta de Nuno Diogo sobre Ibson dentro da área penafidelense. Perto do lance, assinalou a falta, mas em boa verdade esta não terá existido. Foi mancha grave em jogo com percentagem de sucesso a rondar os 90 por cento, isto se entre os minutos 1 e 90 se evaporasse o minuto 47... Uma decisão técnica grave, pois disciplinarmente a escolha e o tempo dos cartões amarelos exibidos (2) foram certos." A Bola

"Depois duma primeira parte desinteressante, o golo surgiu logo na primeira jornada após o recomeço. Ibson entrou na área sobre a esquerda e aproveitou habilmente uma entrada de risco do defesa Nuno Diogo que levou o árbitro a apontar para a marca de penálti." Público

"Após o intervalo, e a rábula do penalty que Ibson conseguiu impingir a Augusto Duarte (o brasileiro encenou bem a falta, promovendo o contacto com Nuno Diogo ao arrastar as pernas, esperando a chegada do defesa penafidelense), o FC Porto entrou na onda do título, a que nem o speaker escapou." Diário de Notícias

"Venceu no Estádio 25 de Abril com apenas um golo, alcançado na marcação de uma grande penalidade que castigou falta duvidosa de Nuno Diogo sobre Ibson, mas fartou-se de falhar oportunidades junto à baliza de Nuno Santos." Mais Futebol


Dizem as "Leis do Jogo 2005", para futebol de 11, da responsabilidade da Federação Portuguesa de Futebol e aprovadas pelo International Football Association Board:

"Lei 14 - Pontapé de Grande Penalidade
Um pontapé de grande penalidade deve ser assinalado contra a equipa que cometa, dentro da sua própria área de grande penalidade e no momento em que a bola esteja em jogo, uma das dez faltas punidas com pontapé-livre directo.

Um golo pode ser marcado directamente dum pontapé de grande penalidade.
Um tempo suplementar deve ser concedido para que o pontapé de grande penalidade deva ser executado no final de cada urna das partes do tempo regulamentar ou no final de cada urna das partes do prolongamento."

O que nos remete para a:
"Lei 12 - Faltas e comportamento Antidesportivo - Pontapé-livre directo
Um pontapé-livre directo será concedido à equipa adversária do jogador que no entender do árbitro cometa, por negligência, por imprudência ou por excesso de combatividade, uma das seis faltas seguintes:
• dar ou tentar dar um pontapé num adversário
passar ou tentar passar uma rasteira a um adversário
• saltar sobre um adversário
• carregar um adversário
• agredir ou tentar agredir um adversário
• empurrar um adversário

Um pontapé livre directo será igualmente concedido à equipa adversária do jogador que cometa uma das quatro faltas seguintes:
entrar em tacle sobre um adversário para se apoderar da bola tocando nele antes de a jogar
• agarrar um adversário
• cuspir sobre um adversário
• tocar deliberadamente a bola com as mãos (excepto o guarda-redes dentro da sua própria área de grande penalidade)"


Digo eu: se não querem acreditar na minha palavra (o que já prova má fé, uma vez que eu estava a 15 metros do lance, as minhas próteses oculares me garantem uma visão 10/10 e apesar de adepta não sou sediciosa), revejam as imagens. O Nuno Diogo tocou no pé do Ibson. Se o jogador do FC Porto provocou o contacto? Amigos! Atirem a puta da primeira pedra.

Antes de acusarem quem quer que seja de facciosismo, limpem lá o cotãozito do próprio umbigo, vale?


25 abril 2006

A cor da liberdade

Lembrando os homens e as mulheres que fizeram Abril.
Celebrando a democracia que permite estas páginas.

Que, por um dia, se esqueça o Portugal que falta cumprir.

21 abril 2006

"A Liberdade de Imprensa deve ter limites?"

Convite

"A administração da Controlinveste Media e a direcção do Diário de Notícias convidam-no a estar presente no debate sobre Liberdade de Imprensa, a realizar-se no dia 27 de Abril, pelas 17h00 no auditório do Diário de Notícias.

Para procurar a resposta à questão "a Liberdade de Imprensa deve ter limites?" estarão nesta mesa redonda - moderada por Henrique Cayatte - Cândida Pinto, jornalista e subdirectora do Expresso; Delfim Sardo, Professor da Faculdade de Belas Artes de Lisboa e ex-director do Centro de Exposições do CCB; Henrique Cayatte, designer e presidente do Centro Português de Design e José Eduardo Agualusa, escritor e jornalista.

Programa:
16h45 - Welcome coffee

17h15 - Apresentações
18h00 - Debate e respostas a questões colocadas pela plateia
18h45 - Encerramento

Agradecemos a confirmação da sua presença para:
Ana Tavares
Tel. 213 187 836 / 213 187 393
Email. ana.i.tavares@globalnoticias.pt

Local: Av. da Liberdade, 266 (Edifício Diário de Notícias), Lisboa

Lugares limitados.

Este evento insere-se no âmbito da exposição "Liberdade de Imprensa" - Colecção Berardo, patente na Galeria Diário de Notícias até 29 de Abril. A exposição integra, entre outras, obras de Mimmo Rotlla, Andy Warhol, Roy Lichtenstein, Marcel Duchamp, Nam June Paik, Jenny Holzer, Alexander Rodchenko e Richard Price."


Fizeram-me chegar este convite, que pode interessar a mais alguém que por aí ande e não tenha ouvido falar do debate. Se forem, quero resumo crítico no dia seguinte... ;-)


Alerta de pechinchas

Magnolia (DVD) - 8,99€
Amores Perros (DVD) - 8,99€
Monster's Ball (DVD) - 9,99€

Dracula (DVD) - 9,99€
Hable con Ella (DVD) - 12,99€
The Piano (DVD) - 12,99€

No Jumbo.

QotD

The meaning of a person's life consists in proving to himself every minute that he's a person and not a piano key. (Dostoevsky)

Novas aquisições!

Robbialac Stucomat (1988)
O Tal Canal


E vale ainda a pena recordar os sempre saudosos....


Genérico da RTP dos anos '80

"A Nossa Selecção" da Sagres com os Xutos na interpretação
"A Sensação de Viver" da Coca-Cola (1988)


Agradecimentos nostálgicos ao Pirata e ao seu Momento Mágico!


O D. João de Ricardo Pais


Dom Juan de Molière, com tradução de Nuno Júdice, em cena no Teatro Nacional de S. João, até 29 de Abril.

Destaque para os figurinos de Bernardo Monteiro, para a actuação de Hugo Torres na pele de Esganarelo e para a participação especial do clarinetista Carlos Piçarra Alves (Orquestra Nacional do Porto), em particular nos temas “Nodir Pare Utthchhe Dhnoa” e “Dhanno Ki Aankhon” tratados a partir dos originais de Rahul Dev Burman.

Quase duas horas consecutivas de um universo que, através das palavras actualizadas do mágico dramaturgo francês, conjuga aforismo e burlesco no movimento contínuo de um palco desenhado a sons e luzes. A não perder.

Obrigada, Navel, pelo convite! :-)

(Fotografia de João Tuna)


19 abril 2006

Novos restaurantes, novas salas de espectáculo

Quem já foi?

Big fat smile III

Nós somos a tua voz / Queremos esta vitória / conquista-a por nós

Steven Johnson

Esteve cá e eu só vi agora. Merda.

Sangue fresco

Em apenas três meses e meio de ano que levamos, apareceram várias novas editoras no mercado livreiro português. Sinal da recuperação dos tempos económicos, do aumento do investimento individual lusitano em livros ou mera coincidência empresarial, as novas empresas aí estão e surpreendem pela dimensão da rede de distribuição que conseguiram já estabelecer.

Já viram concerteza vários escaparates de livrarias com títulos desta malta nova, edições surpreendentes, seja pelos nomes oferecidos, pela inovação da obra ou pela qualidade física dos exemplares. Uma nova vaga que os leitores agradecem. E daqui a cinco anos veremos quantas mantêm os pés assentes nas nossas prateleiras... ;-)

Aqui ficam algumas que me chamaram a atenção.

Lua de Papel (grupo Asa)

Triunvirato
Objecto Cardíaco
A Esfera dos Livros (grupo Rizzoli)
Guerra e Paz
QuidNovi


QotD

El destino suele estar a la vuelta de la esquina. Como si fuese un chorizo, una furcia o un vendedor de lotería: sus tres encarnaciones más socorridas. Pero lo que no hace es visitas a domicilio. Hay que ir a por él. (Fermín Romero de Torres, personagem de "La Sombra del Viento" de Carlos Ruiz Zafón)

18 abril 2006

Pulitzer 2006

Já foram anunciados os vencedores dos prémios Pulitzer deste ano.


Na categoria Journalism, o vencedor do prémio Breaking News foi, como seria de esperar, a equipa da redacção do The Times-Picayune, de New Orleans, LA.

Mas o galardão que mais me orgulhou foi, sem dúvida, o de cartunismo editorial, entregue a Mike Luckovich do The Atlanta Journal-Constitution. Way t'go AJC!! :D


Na categoria Letters & Drama, a vencedora de ficção foi Geraldine Brooks com March, o prémio de drama não foi entregue e o de poesia foi para Claudia Emerson com Late Wife.


Coincidências

Num dia em que as dúvidas suplantavam o optimismo, duas pessoas que me envolvem enviaram-me respectivamente dois emails recheados de verdades. Separados por uma hora no tempo e por um universo de vivências díspares, ambos os remetentes se aproximaram no entanto do core do que precisava de ouvir (ou ler) naquele instante. Ficam o reconhecimento e a partilha públicos.

"I'm always amazed by the complete and utter pointlessness of life itself, the great mystery of all the really big questions - why are we here and how did we get here. (...) But then, something that amazes me equally, is the amazing comfort that we can get through human contact. A long beautiful dinner with close friends, or a party with a good 'crowd', a chat, a romance, even a simple warm smile... and things - even if they don't make sense - seem worth it. The amount of compensation that the latter can give for the former amazes me. In a strange way, it is the horrifying pointlessness of life that makes me love it so much. Or rather the human reaction to it - the fact that we can take so much consolation from insanely small things. Because in reality nothing can ever compensate for the fundamental meaningless of life." Obrigada, L.


"You are a child of the universe, no less than the trees and the stars; you have a right to be here. And whether or not it is clear to you, no doubt the universe is unfolding as it should. (...) With all its sham, drudgery and broken dreams, it is still a beautiful world. Be careful. Strive to be happy.” by Max Ehrman, "Desiderata". Obrigada, N.

QotD

The mind's first step to self-awareness must be through the body. (G. Sheehan)

17 abril 2006

Hospitais públicos - Guia de sobrevivência

1 - A entrada de ambulâncias nas urgências é para ambulâncias. Se lá forem parar de carro, sejam cidadãos civilizados e estacionem no parque do hospital (a 300m) e depois caminhem para a entrada pedonal. Se não o fizerem, os senhores bombeiros gritam convosco e acusam-vos de irresponsabilidade social naquela linguagem colorida que caracteriza os homens de barba rija deste nosso país.

2 - Se forem virgens nas andanças hospitalares públicas (e espero que o sejam por muito, muito tempo), não percam tempo a procurar indicações de procedimentos nas salas de atendimento. À falta de balcão visível, perguntem à primeira pessoa minimamente inteira que esteja sentada por ali como é que a coisa funciona.

3 - Não há sangue, não há pressa. Manter-se nas pernas, ter os olhos abertos, articular discurso e não apresentar sinais de trauma são os quatro pré-requisitos para vos chaparem na ficha a etiqueta da cor mais baixa na escala das urgências. Grávidas, ossos partidos, mãos arrancadas, passa-vos tudo à frente, e não interessa a ponta de um corno que vocês já estejam a ver a vida toda em sequência rápida perante os olhinhos. Disseram-me que cortar os pulsos costuma funcionar, desde que a enfermeira de serviço vos veja. Desmaiar ao balcão também é uma boa táctica, mas dá mais trabalho, porque a perda de sentidos tem de ser real. Afinal, estamos num hospital...

4 - A vossa roupa e os vossos objectos pessoais deixam de ter importância a partir do momento em que vos deitam numa maca. Passaram a ser um paciente. Objecto de estudo e prospecção, sujeito e condicionado às regras e ditames do corpo médico e de enfermagem da instituição. Aceitem.

5 - As enfermeiras, por mais putas e sádicas que se mostrem, têm sempre razão. São um pesadelo kafkiano. Pequenas vitórias pessoais (como sorrir quando o médico as repreende por um erro) serão duramente punidas a posteriori na enfermaria. Lembram-se da Misery? É pior, mas sem as amputações. No trato com as enfermeiras, deixem o instinto de sobrevivência levar a melhor sobre todos os vossos valores morais e éticos, não se arrependam e nunca repitam a ninguém o que foram capazes de fazer para sobreviver dentro daquela enfermaria. É a guerra pela preservação da vida.

6 - Tudo o que ouviram sobre a comida de hospital é verdade. Deve-se comer melhor numa prisão chilena, remodelada depois do Pinochet. Façam o possível por ficar a soro, apesar do desconforto de sentir a intravenosa a dançar por debaixo dos vossos tecidos sempre que mexem o braço. Pelo menos assim comem direitinho, com tudo o que faz falta e sem paladar.

7 - O conceito de higiene tem uma interpretação muito própria num hospital. Salas amplas, claras e assépticas? Filme. Pessoal a trocar de bata descartável a cada dois minutos? Filme. Indivíduos com aspectos de serem concomitantemente portadores de hepatite, tuberculose e sars? Aos pontapés. Cheio a desinfectado? Boa sorte. Tomar duche? Não há, não se usa, não é preciso. Não acreditam? Experimentem.

8 - Nunca entrem de urgência num hospital público imediatamente antes de um fim-de-semana ou de um feriado. Cerrem os dentes e aguentem. O mais que possam. Se não tiverem outra hipótese, preparem-se, porque podem ficar operacionais em quatro horas, mas só saem quando houver médico para assinar a baixa. Ou seja, no primeiro dia útil que apareça. A estorieta dos filmes do "eu assumo a responsabilidade, dê-me o termo que eu vou-me embora!" não funciona. Façam como eu e tentem com várias pessoas diferentes, mas preparem-se para esperar.

Acima de tudo, minha gente... Se não der mesmo, mesmo, mesmo para espremer do salário o valor mensal de um seguro de saúde, boa sorte. Muito boa sorte. Mesmo.

Relevância ao que a tem

Há um processo estranho que cai sobre a sabedoria popular. Nasce do empirismo, é absorvida como dogma pela sociedade, transforma-se num lugar comum e cai em desuso quando se assume que é intelectualmente desprovidade de validade.

Nascida, criada e parcialmente vivida no Porto, sempre ouvi a célebre pérola "haja saúdinha" contraposta a qualquer conversa mais ou menos existencialista em que alguém se lamentava sobre a falta de algo. Querendo significar, claro, que havendo saúde tudo o resto é relativo e demais desgostos serão dispiciendos.

É das tais coisas às quais deixamos de atribuir significado. Até que a dita saúdinha falta e pensamos, submersos em mal-estar físico e em dorido desespero, como afinal havendo saúde tudo o resto se torna mais fácil. É aqui que entra em acção um segundo axioma popular, "só se dá valor ao que não se tem".

Fica aqui a promessa, a partir deste fim-de-semana do inferno, dia que comece saudável é dia santo. :)

12 abril 2006

EmePonto Tours'

Partida pela manhã, do posto de turismo da Ribeira, com passagem por um pequeno-almoço ao ar livre com vista para o Douro, antes da subida estreita e escondida das escadas das Verdades, do Barredo até à Sé. Primeira paragem no miradouro da igreja de S. Lourenço, para retomar fôlego e seguir em visita à , com direito a guia castelhano em diferido.

Contornando a muralha fernandina, avista-se o rio do tabuleiro superior da ponte de D. Luiz, para logo desembocar na igreja de Santa Clara, onde as fotos ainda são permitidas e a talha dourada se decora com o púrpura da paixão da época. Breve atalho pela estação de metro de S. Bento, para admirar os azulejos, e, deixando de lado os Aliados, esburados e demasiado conhecidos dos visitantes, seguir com os Clérigos pela frente.

Ainda há tempo para uma espera na Arcádia, onde os melhores chocolates e as melhores amêndoas do mundo assomam, gulosos, nas vitrinas. O almoço é no Larica; toca a sineta e a porta abre para o conforto e a simpatia de sempre. Energias repostas, continua a subida até Carlos Alberto porque a loja de chás ingleses, pastas italianas e enchidos lusitanos já faz parte do roteiro. A Lello é o monumento que se segue, onde, logo que o pé sobe a soleira, a luz do sol bate directo nas escadas escarlates mostrando o caminho.

De regresso à canícula, uma corridinha breve pela Garfos e Letras antecede os Clérigos. A igreja ainda está fechada, mas desta a torre não escapa. 198 degraus bem contados e que contrariam os 225 impressos no mal escrito folheto sobem acima dos 70 metros de altura e obrigam alguns a coser-se com a parede do varandim superior. Os menos estontecidos filmam e disparam obturadores sobre um Porto que, dali, parece não ter fronteiras.

A Casa Oriental desperta sorrisos a caminho da Cadeira da Relação onde se revive a história de Camilo e se relembra a estória de Ana Plácido. A Rua das Taipas desce, desce, desce e faz escurer de novo a visita, completando um círculo que se vai estreitando em torno do casario velho, da gente desbocada e dos cães ansiosos.

Loja de arquitectura, Mercado Ferreira Borges, Palácio da Bolsa. E chega o destino mais esperado, a igreja de S. Francisco e respectivas catacumbas. Uma boa meia hora de conversa no fresco interior do templo românico/gótico (que as contradições da história decoraram com retábulos de talha dourada) é acompanhada por um cd que entoa, algures, cantos gregorianos. Ouvem-se estórias da capela Sistina e sonha-se com outras viagens.

À saída o sol já se espelha no rio e a sede leva os visitantes à esplanada do Max. A alfândega abre o apetite para passeios de outros dias e os olhares aguçam-se no sentido do Palácio de Cristal para onde foi prometida a narração de um amor que, começando nos jardins entre pavões e árvores namoradeiras, se estende pelos caminhos do Romântico para desembocar nesse promontório onde o rio se deixa beijar pelo oceano.






Percurso 1
- Património Mundial: Da Ribeira à Ribeira


Extensão: 5 Km
Duração: 6 horas
Exigência física: média
Oportunidades fotográficas: postais e detalhes
Custo: entre 24,25 e 28,50 euros pp (PA: 3,5€; Arcádia: 8€ 250gr. de bombons ou 3,75€ 250gr. de amêndoas; almoço: 5€; Clérigos: 2€; Bolsa: 5€; igreja S. Francisco: 3€; refresco final: 2€) - Compras nos espaços comerciais referidos não incluídas. - A guia trabalha de borla, desde que o dia esteja bonito e a companhia seja agradável.

Percursos alternativos disponíveis sob consulta e sujeitos ao estado de espírito da organização.


"Isto é tudo o que há."

Ouço a porta fechar-se nas minhas costas. As luzes estão apagadas. A casa vazia. Silêncio. E de repente percebo. Num instante incontável tudo se torna evidente. É a ausência total. O vácuo de sentido nos gestos que o corpo toma, a tábua rasa de significado das emoções que a alma produz. Ajoelho-me na tijoleira da entrada e dobro-me até encostar a fronte no tapete. Abandono-me ao que sinto depois de demasiados dias em dormência. Os músculos finalmente distendem e relaxam. Cai a vontade, sai o grito. Quando tenho coragem para erguer a cabeça, vejo os olhos fosforescentes do gato numa mirada incólume, sem significado. Limita-se a estar ali e a ver-me. Sem expectativas, sem juízos de valor. Sem esperanças ou ambições mascaradas. Limita-se a estar lá e a ver-me. No olhar mais sincero que já recebi na vida está a única verdade que nunca me disseram.

11 abril 2006

Pintora (de tectos ;) ) por uma tarde

Quando alguém tiver a tentação de achar que o trabalho de um técnico de construção civil é básico e inqualificado... think again! ;)

Passei a tarde a pintar um tecto de cozinha e, amigos... a coisa tem mais ciência do que é hábito pensar-se. Não é difícil, mas não julguem os virgens nas andanças da bricolagem que não tem seu saber. :) Nunca mais me admiro quando vir três sujeitos parados a olhar para um que trabalha. É que o verdadeiro trabalho braçal é, de facto, cansativo. Acreditem no testemunho dos meus doridos ombros, habituados a levantar 30 quilitos de peso no ginásio... ;)

É a terceira casa que pinto. Nenhuma delas foi minha. Será sintomático?? ;)

10 abril 2006

Gnosticismo - Guia rápido

gnosticismo
substantivo masculino

1. FILOSOFIA, RELIGIÃO doutrina de diversas seitas dos séculos II e III, cujos iniciados pretendiam ter da religião e de todas as coisas um conhecimento superior ao da Igreja;
2. FILOSOFIA toda a doutrina que alega encontrar uma explicação total das coisas por processos supra-racionais ou mesmo racionais;

(De gnóstico+-ismo)
© Copyright 2003-2006, Porto Editora.


Gnosticism (Catholic Encyclopedia);

Gnosticism (Wikipedia);

Resources on Gnosticism and Gnostic Tradition (The Gnostic Archive);

A Christian reflection on the “New Age” (Vatican) - O único documento oficial do Vaticano que consegui encontrar que aborda a questão do gnosticismo sob o ponto de vista do “return of ancient gnostic ideas under the guise of the so-called New Age";

The Gnostic Gospels (Amazon) / Os Evangelhos Gnósticos (FNAC).


Ainda não consegui ler o suficiente acerca do tema para poder ter uma opinião. Mas... I'm a sucker for conspiracy theories, portanto o mais provável é que acabe por concordar com Elaine Pagels... ;)

EE ao domicílio II

Os aviões decolam ou descolam?

decolar - v. (do fr. décoller). Bras. Levantar voo; elevar-se no ar. Sinónimos: descolar, levantar. Antónimo: aterrar.

descolar - v. (de des + colar). 1. Levantar voo; elevar-se no ar. Sinónimo: decolar. Antónimo: aterrar. (...)


(DLPC, da ACL)


Ou seja, ambos os vocábulos são correctamente utilizados na Língua Portuguesa, embora o termo decolar seja uma importação do termo brasileiro. Que eu, pelo menos, prefiro continuar a usar. :)


Extirpar ou estripar?

extirpar - v. (do lat. exstirpare). 1. Agr. Arrancar plantas pela raiz; fazer a extirpação. Sinónimos: arrancar, retirar. 2. Retirar ou extrair totalmente o que está incrustado ou contido; fazer a extirpação. Sinónimos: extrair, remover. 3. Fazer desaparecer ou destruir completamente. Sinónimos: eliminar, extinguir. 4. Desapossar ou destituir alguém geralmente através de meios abusivos ou violentos.

estripar - v. (de es + tripa + suf. ar). 1. Tirar as tripas a um animal. Sinónimo: destripar. 2. Rasgar o ventre. Sinónimo: destripar, esventrar. 3. Causar grande mortandade; fazer uma chacina, uma carnificina. 4. Bras. Desfazer em fios. Sinónimo: desfiar.

(DLPC, da ACL)

QotD

To you I'm an atheist; to God, I'm the Loyal Opposition. (W. Allen)

07 abril 2006

Closure

Sabem quando um tema nos entra pela vida adentro, sem pedir licença e sem permitir que o ignoremos? A semana em que, novamente, reentra na minha vida a mais doce e a mais agonizante recordação do meu passado, é também a semana em que mantenho uma certa conversa com a Navel e em que leio determinado artigo na NM. Não dava mais para ignorar. Os sentidos, por vezes, captam parcelas da realidade que se impõem como coincidências cheias de propósito.


Closure
In psychology, closure may refer to the state of experiencing an emotional conclusion to a difficult life event, such as the breakdown of a close interpersonal relationship or the death of loved one. (Wikipedia)

Closure é, de facto, um conceito que me é muito caro. Uma prática que me custou a adquirir, mas que, a certo ponto, se tornou a única solução possível para prosseguir o meu caminho fiel ao que sou e àquilo em que acredito. Em certos pontos da nossa vida, quando a nossa própria dor nos parece demasiado atroz para suportar, quando a perda nos fere em nervos que nem sabiamos ter, chegamos a uma encruzilhada. A um local onde se abrem três veredas à nossa frente. A um espaço onde muitos escolhem permanecer, por tempo indefinido, porque não lhes é permitido percorrer o caminho de volta, mas, ao mesmo tempo, nenhuma das novas estradas lhes parece viável.

Se falarem com qualquer psiquiatra norte-americano (aos portugueses nunca vi abordar o tema), vão ouvir que estão tipificadas três formas de obter closure. A conceptual, em que o indivíduo analisa e racionaliza a sua dor, como forma de a compreender, para depois a aceitar e incorporar na sua forma de ser e de agir no futuro. A retributiva, que leva à sede de vingança, à necessidade de ferir em maior escala aqueles que o indivíduo aponta como responsáveis pelo seu próprio sofrimento para sentir que as contas foram ajustadas, que o sangue derramado pagou a factura e lavou o passado. E a dissociativa, a mais comum, em que o sujeito reprime a sua dor e o seu sofrimento, não os manifestando abertamente e encerrando-os numa espécie de personalidade alternativa, que não assume como sendo o seu "ego" e que lhe permite manter a linha de vida tida até ao momento enquanto projecta num "alter-ego" as frustrações derivadas da incapacidade de gerir a dor. Levado ao extremo, o dissociative closure, manifesta-se num distúrbio de identidade dissociativa, mas normalmente reflecte-se em algo que nos é muito familiar: pessoas que assumem várias envolventes sociais díspares, como se mantivessem, em malabarismo, várias vidas concomitantes.

Várias formas diferentes de obter, ao fim e ao cabo, paz. De anular, de pôr um ponto final nas consequências dos acontecimentos passados, para prosseguir com algo que é a ambição de todo o ser humano: uma vida feliz. A coisa não é tão linear; eu - angustiada-mor - que o diga. Na minha adolescência, por uma conjugação de uma série de infelicidades fora do meu controle com os naturais dramas característicos da idade, optei sempre por me dissociar das consequências do sofrimento, por projectar uma imagem criada meticulosamente para surgir aos olhos alheios como imune a qualquer tipo de sensação. Quando descobri o poder de manipulação que as pessoas observadoras e sensíveis conseguem ter, passei a usar a vingança como forma de extirpar a dor. Só muito recentemente percebi que essa ambição de ser feliz é um pouco como um amor de sucesso: implica trabalho, muito.

Tudo pode acontecer numa vida. Em consequência lógica, estamos destinados a muitas dores e a alguns sofrimentos atrozes. Mas se não formos capazes de perceber, aceitar e seguir em frente nunca seremos grande coisa. Não quer isto dizer que devamos ignorar paulatinamente o que nos vai sucedendo. Muito pelo contrário. O que quer dizer, acho eu, é que é preciso um bom par de tomates para sentir o golpe e, mesmo assim, ter a consciência de saber que vai suturar e que a vida vai continuar, muito semelhante ao que era antes...

É neste estado de espírito que a entrevista de María Jesús Álava Reyes cai que nem mel na sopa. A psicóloga espanhola, a propósito do
livro que publicou recentemente e em entrevista à Notícias Magazine, afirma coisas tão básicas e tão lógicas como as que se seguem.

"Muita gente parece que ficou parada no sofrimento e que tira partido do facto de inspirar pena: consegue manter a atenção de quem a rodeia e faz disso uma forma de vida. Estas pessoas têm muita resistência a mudar e quando se lhes diz que as coisas podem ser de outra maneira, elas, que estavam muito tranquilas na sua infelicidade pela qual culpam os demais, preferem não acreditar porque se esta depender delas, que é a primeira coisa que dizemos a alguém, significa que são responsáveis pela sua vida e que têm de esforçar-se. E há quem não queira esforçar-se muito. Mas é um erro. Primeiro, porque quem está ao lado acaba por se cansar, e segundo, porque assim a pessoa não se permite ser feliz e buscar a parte mais positiva da sua vida."

'A psicóloga espanhola estima que 95 porcento do nosso sofrimento seja inútil. "Sofremos não tanto pelo que nos acontece, mas pela forma como interpretamos a vida, pelos pensamentos que temos." '

"Uma coisa é quando cometemos um erro termos a capacidade de o reconhecer, analisar e tirar dele os ensinamentos necessários para não voltar a repeti-lo. Outra muito diferente, e contraproducente, é passar horas e dias a revê-lo na nossa cabeça, e a martirizar-nos com isso. Se for remediável, o que há a fazer é passar à acção para o resolver. Mas se não for, só há uma forma inteligente de lidar com o assunto: aprender com ele e deitá-lo para trás das costas."

Ou, como dizia à
Navel: "That's something we've learn: no need to dwell neither in the glooms nor in the glories of the past. It's as sure as death: the past can't be undone. We need to accept it and start loving ahead, not back."

Pragmático, não? Se deixei de sofrer pelo meu passado? Não. Mas aceitei-o. Se continuo a pensar no que podia ter sido, se apenas...? Não. De todo não. Se não tenho vontade de me auto-comiserar de quando em vez, só para sentir que sou um ser humano único que não merece a merda de mundo em que vive? Às vezes, até porque nada ajuda mais ao processo criativo do que uma boa dose de angústia existencial auto-inflingida. Mas apesar de tudo isso, quero muito viver, cada vez mais, e crescer, cada dia melhor. Quero ter a certeza de que, aconteça o que acontecer, nunca deixarei de ser capaz de amar. E isso só se consegue aceitando.

Periféricos

Miserável portugalidade que leva sempre meses infindos para traduzir e importar tudo o que não seja mainstream ou bestseller. Para quando os Sete Pecados, por Savater, para quando?!

06 abril 2006

QotD

Perdido por buscarte. (Graffiti)

05 abril 2006

Dúvida existencial

Porque é que as lombadas de livros, CD e DVD não têm uma regra universal de orientação dos títulos?

Desilusão

Por muito que goste do Adrien Brody, e acreditem que gosto, o The Jacket foi uma má escolha. A ideia original tem poder mas foi mal explorada pelo John Maybury, falta densidade a um argumento que tinha mais por onde ir. O próprio Jack Starks sofre com isso e embora Brody lhe empreste alguma coerência acaba por não conseguir projectar uma imagem real do personagem para além da tela. O filme tinha tudo para funcionar comigo - Brody, suspense, drogas e mindgames - mas teve pouca sorte com o realizador que decidiu filmá-lo... ;)

QotD

There is no salvation in becoming adapted to a world which is crazy. (H Miller)

Sonrisa telefónica

Acabei de passar duas horas consecutivas ao telefone com alguém que, ano e meio depois, continua a fazer-me sorrir e chorar nos momentos certos. É muito bom saber que depois de passar do amor ao ódio pode ficar este sentimento tão doce, tão suave e tão reconfortante.

Gracias, JC. Por los chistes, por el cariño, por el cuidado. Por los regalos y por la invitación. Por seguir haciendo parte de mi vida, de esa manera tan tuya, tan linda. Te quiero. :)

03 abril 2006

vinte-e-nove-graus-centígrados

É oficial. Hoje, 3 de Abril, foi o primeiro dia de praia do ano. Toalha, biquini, água, frisbee, factor 50, boa companhia. Sol, sol, sol e mais sol; pele a começar a ganhar cor, sardas a aparecer. Carros com capota descida, corpos à mostra, gente sorridente no passeio marítimo.

[Hoje não me queixo das férias forçadas... :D ]

01 abril 2006

Enjoy!

E assim se põe em dia um mês de ausência bloguista, com a passagem a formato digital de semanas de recortes e anotações. Entre umas duas dezenas de posts vão, seguramente, encontrar algo que vos chame a atenção... :)

Ainda havia o artigo sobre um curioso caso que se arrasta há dois anos pelos tribunais portugueses porque ninguém parece ser capaz de decidir quem rasga uma nota falsa usada como prova num processo. Dava um excelente ponto de partida (junto com a intervenção de Sampaio sobre o sistema jurídico lusitano) para um artigo sobre o estado da justiça em Portugal, mas não encontro o recorte.

E agora, como dizia essa grande filósofa que era a minha avó, "vamos à vida, que a morte é certa!".


Rali às tascas, versão 'home cinema'

Valentim de Carvalho:
Before Night Falls - 4,99€
Le Fabuleux Destin de Amélie Poulin - 5,00€
Todo Sobre Mi Madre - 5,00€
Fightclub - 8,20€
21 Grams - 9,99€

FNAC:
American Beauty - 8,70€
Big Fish - 9,95€

Worten:
Closer - 8,40€

Papelaria das Antas:
A Clockwork Orange - 8,90€

Nove excelentes filmes, destinados a engrossar a prateleira da videoteca doméstica, pela módica (média) quantia de 7,68€ cada um. Foi uma boa tarde de compras. :D


Buñuel revisitado

Há medida que acumulamos conhecimento pela vida fora, vamos sedimentando as novas aquisições por cima dos conceitos já adquiridos. Caixas sobre caixas, como no sótão de Sherlock Holmes. Mas, apesar de não solicitado, pouco se perde e basta uma linha, uma foto ou uma palavra para o relembrar.

Foi o que se passou com o aragonês Luis Buñuel, que uma biografia reacendeu na minha memória e assim foi revisitado. O Charme Discreto da Burguesia e Un Chien Andalou não passam impunes pela história deste mundo... :)

O novo queridinho literário lá de casa

Chamou-se Terenci Moix, embora tenha nascido Ramón Moix. Foi espanhol, catalão de Barcelona. Tinha 61 anos quando morreu e deixou em herança, além de um punhado de livros bem escritos, uma biografia feita de liberdade, viagens e angústias de amor.

Eu tenho na minha mesinha de cabeceira Não Digas Que Foi Um Sonho, no escritório está El día que murió Marilyn. Recomenda-se. :)

Timor independente

Cândida Pinto e o fotógrafo Jorge Simão visitaram as crianças e as escolas timorenses, para reportar que a Escola Portuguesa é apenas frequentada por uma pequena elite, capaz de pagar os 5 dólares mensais de propina. Que os descendentes podem ser sinónimo de riqueza em Loro Sae, mas que 45 porcento dos filhos de Timor ainda vive mal nutrido.

O resultado foi uma foto-reportagem simultaneamente triste e bela. (Única, 25 de Fevereiro)


Copyrigh: Jorge Simão/Única

Um Homem. De verdade.

A Única, de 4 de Março, publicou uma entrevista a Baltasar Garzón, o juiz que mandou prender Bin Laden e Pinochet, intitulada "Dialogo até com o Diabo, mesmo no Inferno".

Da autoria de José Pedro Castanheira e com fotos de Rui Ochôa, é um artigo a preservar, pelo valor histórico que assume. Garzón ficará para a história como um verdadeiro homem de leis, um humanista racional, de pés bem assentes na terra e com uma consciência geo-estratégica invulgar nos homens de poder.

Uma boa introdução ao livro Um Mundo sem Medo, da autoria do juiz espanhol.

Imprensa regional

O Bareme Imprensa Regional da Marktest para 2005 revelou que cerca de quatro milhões e meio de portugueses lêem jornais regionais.

Tendo começado a trabalhar num jornal regional (já lá vão 9 anos) e conhecendo de perto a realidade deste mundo tão... especial do nosso jornalismo, alegra-me saber que continua a haver leitores para este tipo de meio.

A imprensa regional - seja sob a forma de jornais, revistas ou rádios - é das melhores escolas de jornalismo de Portugal e, apesar do folhetim do porte pago, é uma indústria que emprega milhares de profissionais. Que merece respeito e público. :)

Food for thought

Breakfast on Pluto, de Neil Jordan (adaptado do romance de Pat McCabe), mistura travestis, tumultos políticos e sentimentos primários ao longo de um filme em que a Irlanda dos anos 60 e 70 serve de palco à vida inusitada de um doce marginal. Sem ser brilhante, vale pelas emoções que arranca.

Qualquer semelhança com outra revista será pura coincidência...

"Life is cabaret, old chum"...

E o Maxime revive! A fazer merecer uma visita especial à capital. José Cid dispenso, mas John Ventimiglia, a 20 de Abril, talvez me convença. Sim, esse todo, o Artie Bucco dos Sopranos.

Yet another graphic novel goes on screen

"A Scanner Darkly" is set in suburban Orange County, California in a future where America has lost the war on drugs. When one reluctant undercover cop is ordered to start spying on his friends, he is launched on a paranoid journey into the absurd, where identities and loyalties are impossible to decode. It is a cautionary tale of drug use based on the novel by Philip K. Dick and his own experiences.
Like a graphic novel come to life, "A Scanner Darkly" uses live action photography overlaid with an advanced animation process (interpolated rotoscoping) to create a haunting, highly stylized vision of the future. The technology, first employed in Richard Linklater’s 2001 film "Waking Life," has evolved to produce even more emotional impact and detail.


The movie premieres this July, and the first reviews have left me curious. No matter how it goes, it's always a good pretext to review Dick's novels. Ubik, for instance.

Porto escondido

Quem já leu alguma coisa sobre o Porto sabe bem que a cidade velha é percorrida por centenas de metros de túneis, galerias e passagens subterrâneas, criadas para levar água à cidade e dela escoar os desperdícios. Abandonada no final do século XIX, a rede de subterrâneos da Invicta pode ser vista em visitas organizadas.

As mais regulares são as dos SMAS (tel. 225190800, Paulo Carvalhosa), mas a Associação para a Medicina, as Artes e as Ideias também organiza grupos de exploradores (tel. 226079609). Um Porto diferente, aqui bem perto. Fica a sugestão.

A moda fica à porta

O Sem Mais nem Menos (100+-) é um espaço recente bem no coração do Porto Velho. Na Rua Mártires da Liberdade (entre a Praça da República e o Carlos Alberto), abre as portas como livraria especializada em design, arquitectura, arte, filosofia e ciência. Mas não se esgota nas lombadas. É também café, sala de música e cinema, escaparate de objectos.

Não tem acesso à Internet. Diz Mário Teixeira, um dos donos, ao Expresso: "quero que as pessoas escrevam nas paredes, se toquem, falem umas com as outras". E no 100+- nada é, realmente, o que se espera. Os livros, os álbuns e os filmes (novos e usados, para compra ou consulta) são perfeitos desconhecidos para os meros seguidores do mainstream.

De quinta a sábado, às 23h, projectam-se filmes de animação, contra a montra que assim transborda para a rua antiga. Em Março tiveram um especial do Tim Burton, com merchandising, livros, bonecos. O rótulo de "alternativo", comercializado até à exaustão nos últimos 10 anos, regressa ao âmago no 100+-. Sem modas e apenas porque sim.

(Sugiro um vinho do Porto no 100+- ao final duma destas tardes de Primavera, em boa companhia e com o Sociopólis - Projecto para uma sociedade de futuro na mesa, seguido de um jantar simpático, três portas mais abaixo, no Gira Pratos. Não se vão arrepender, garanto.)

Na Morte como na Vida

Mário Viegas morreu. Era um cómico que levava dentro de si uma tragédia. Não me refiro à implacável doença que o matou, mas a um sentimento dramático da existência que só os distraídos e superficiais não eram capazes de perceber. Fazia rir, mas não ria. Pouca gente em Portugal tem valido tanto. (José Saramago)

Com saudade.

One opportunity to switch your life

Under the motto "The True You could be the New You"(TM), LifeSwitch is a UK based project that offers people the chance to change their life. For the (common) better. This branch of Christian Aid, UK's largest charity, first makes a profile of the applicants and then redirects them to the country they would be most comfortable in.

If you look beyond the motivational speech which we, in the latin countries, still think of as laughable, you'll find a curious idea, structured and solid, that allows people who feel like quitting everything and change a desk job in Europe for an ascet robe in India the opportunity to so over a firm security net.

According to them, I'd go to Bolivia. And that was a pretty good assessment from their part. I could lead a happy life in Bolivia, if I was ready to switch my life... :)

Assombrosa naturalidade...

A notícia é antiga, data de Junho de 2003. O jornal Arab News entrevistou Muhammad Saad Al-Beshi, à época o chefe dos carrascos reais da Arábia Saudita, que afirma levar "uma vida normal".

Com um trabalho que implica cortar a cabeça a até sete pessoas por dia, Muhammad descreve um quotidiano calmo e familiar e explica ao jornalista os deveres do seu emprego, como se relatasse o dia-a-dia de uma repartição pública.

Há uma aura de desprendimento transversal ao artigo que, aos olhos ocidentais, surge aterradora na sua normalidade. Um testemunho directo das disparidades culturais desta nossa realidade. Que faz reflectir.

Momento mágico

As músicas da nossa infância, gentilmente reunidas pelo Pirata!

Os desenhos animados: a Heidi, a Abelha Maia, o Era Uma Vez a Vida, a Bia, o D'Artacão e os Três Moscãoteiros, o Tom Sawyer; os jingles publicitários: a Bic, a Sensação de Viver da Coca-Cola, as Fantasias de Natal, o Corneto da Olá, o Tragabolas; as séries míticas: a V - Batalha Final, o Verão Azul, o Duarte e Companhia, o Sitío do Picapau Amarelo, o Hitchcock Apresenta; as músicas infantis: os Amigos do Gaspar, a Loja do Mestre André, o Avô Cantigas, a Uma Árvore um Amigo...

Uma meia hora muito bem passada, a trautear canções inesquecíveis! Só falta o jingle da Robbialac "Stucomat é uma grande tinta, Stucomat é Robbialac"!... :D

O Mundo em imagens

Reburial of Srebrenica massacre victims' bodies, Potocari, Bosnia, 11 July
(winner of the 2nd prize, singles, general news)

Copyright: Andrew Testa, United Kingdom, Panos Pictures for The New York Times.

World Press Photo has already chosen it's 2006 edition winners'. Start here and make your way through the best pictures of the year. Filled with beauty and pain.

Segredos

\con*fess"\, v. i. 1. to make confession; to disclose sins or faults, or the state of the conscience.

A ideia é intemporal. Está aí o Post Secret para o provar, na sua versão plástica. O Group Hug é uma sugestão mais minimalista. Pura. Directa. Brutal.

Inovação, design e originalidade

A Club Magazine é um projecto recente, nascido no início do ano e que vai a caminho na quarta edição. A revista, mensal e de distribuição gratuita, assume-se como um guia cultural e nocturno do Norte e é fruto do trabalho de uma equipa jovem que, com esforço, dedicação e empenho, tem provado que as ideias válidas são viáves e que podem conquistar o sucesso que lhes é devido. Uma equipa que tenho o prazer de integrar (obrigada, J., pelo convite!) e de cujos conteúdos e design me orgulho. :) Aqui ficam alguns exemplos, para aqueles que ainda não a viram por aí...



Um acorde acolhedor

Painéis de madeira forram a sala e envolvem os frequentadores num ambiente suave onde a música impera. Apetece invocar o som de Lucille e a voz quente de BB King que entoa Everyday, everyday I have the blues...

No Blues Caffe, em Espinho, o humor nunca é no entanto azul. Todas as semanas sobem ao palco novas bandas e artistas reconhecidos que actuam para os amantes da boa música nacional. Piano, contrabaixo, guitarra e sax são os instrumentos mais frequentes nas mãos dos músicos que actuam neste bar e que os fazem vibram ao som das famosas blue notes que compõem os ritmos do blues, do jazz e do original R&B.

Um espaço quente e confortável, o Blues Caffe aposta numa arquitectura de interiores sóbria onde um suave revivalismo dá o ponto de partida à decoração. Pelas paredes pontuam painéis fotográficos que invocam os anos dourados do blues e as mesas exibem, num apontamento delicioso, facsimiles de capas de álbuns míticos na história da música.


O serviço atento, profissional e discreto contribui para o bem-estar geral, principalmente quando a cozinha abre, as toalhas descem sobre as mesas e o Blues se converte em restaurante, onde as refeições se saboreiam ao som de uma envolvente música ambiente.

Durante o dia, as cortinas afastam-se e a luz reflecte-se na sala, fazendo brilhar as colunas revestidas a carvalho. Pela noite, o negro e o vermelho das cadeiras que rodeiam as mesas ganham novo impacto e os tons apuram-se ao som de uma iluminação indirecta criada para esculpir intimidade e sorrisos.

Ponto de encontro de boa música e de reconhecido conforto, o Blues Caffe assume-se como um destino onde, em Espinho, é possível desfrutar de momentos envolventes. Onde sentir-se azul é sinónimo de calma e boa disposição.


(In Club Magazine, o novo guia cultural e roteiro nocturno do Norte, Março de 2006)
[Foto: Deck97. Texto e foto: todos os direitos reservados a Club Magazine e autores.]

Um espaço, vários mundos

Assumindo a sua vertente de inspiração londrina, o projecto de renovação do Bazaar foi orientado de raiz para mesclar cultura e lazer num espaço moldável, onde painéis rolantes criam recantos confortáveis e a ponderada iluminação opera a metamorfose final desenhando intimidades.


Miguel Diogo e Artur Alves conceberam meticulosamente a multi-funcionalidade do bar portuense, enquadrando na riqueza arquitectónica da belíssima fachada ribeirinha a matéria-prima crua dos interiores, numa espécie de folha em branco que é possível mimetizar ao bel-prazer das exigências do espaço.

Servindo como bar ao fim de semana, o Bazaar converte-se, de domingo a sexta-feira, em cafetaria e espaço comercial, onde moda, cultura e design interagem numa ecléctica combinação de roupa, discos, jóias, acessórios, livros e peças de decoração. Uma independência estética e cultural ainda escassa na noite nortenha garante a rotatividade de exposições de fotografia, a presença de nomes de qualidade na cabine do d.j. e a mestria imagética das projecções vídeo, conferindo ao espaço uma identidade própria e já reconhecida na Invicta.

Na noite do Cais das Pedras, o vermelho e o negro das cirúrgicas peças de decoração vêm quebrar o branco minimalista que impera no Bazaar que, como uma linha em fluído e constante movimento, se enlaça e expande em bolhas de convívio e conforto que integram sem expôr os que por lá escolhem passar.

Por entre paredes móveis que se vêm fixas, ao redor de mesas estáticas que parecem não estar lá e nas poltronas redondas que surgem do chão como que em geração espontânea, a conversa flui ao som de boa música enquanto o olhar se prende nas imagens que se sucedem, coloridas, por entre o branco discreto da sala. No piso superior segue o bom gosto e escolhe-se uma t-shirt ou uma jóia que nunca se viu...

A noite do Porto há muito que deixou de ser cinzenta e, nesse novo mundo de escolhas, o Bazzar oferece alternativas sorridentes e sólidas. Com fachada de pedra e vista para a luz da noite no Douro.


(In Club Magazine, o novo guia cultural e roteiro nocturno do Norte, Fevereiro de 2006)
[Foto: Bazaar. Texto: todos os direitos reservados a Club Magazine e autora.]