27 fevereiro 2006

No final do dia de trabalho de hoje, vai começar um período de férias forçadas por tempo indefinido. Como tal, os horários vão desregular-se e as presenças aqui pelo Blue Notes, se bem que tendam a aumentar, tornar-se-ão mais erráticas.

Vou aproveitar o tempo livre que me impõem para pôr em dia a leitura, a escrita, as viagens e as visitas a quem amo. De Braga a Portimão, passando por Londres e Paris, o primeiro mês já está decidido e inclui ainda o delicioso papel de anfitriã portuense - cada vez mais uma personagem nos dias que correm.


A todos aqueles que por aqui têm sido fiéis, fica o aviso à navegação. Presente, sempre, apenas a intervalos diferentes. :D

Close Encounters


Ele anda por cá. Foi visto no Bairro Alto. Trouxe a mãe, mas supõe-se que à noite saia sem ela. Boa sorte! ;)

QotD

True men are spirits made gentle by the love of a woman. Ironically, they learn to protect that love with their hate. (Shu Tsin Tzun, Eastern Japanese Text)

24 fevereiro 2006

I love dressing up as someone else...
















Me, next monday ;)


Saudade

I woke up to find a dark cloud floating outside today. And I remembered your sky... The endless horizons on the road, the sunset over the Bellsouth tower, the pale light in the mornings outside my balcony in Lindbergh...

I remembered you, my loved Atlanta, my life's worth surprise, my proof that you can love what you once thought to hate.

I can close my eyes to remember the bright reflection of the sun over the Wyatt, to recall the kids dancing in the water streams of Centennial Park, to see again before my eyes the early nights around a wine table in Virginia Highlands...

I have loved you with my heart open to all, in an undivided, crazy, brutal way and you gave back to me the two best years of my life in return. You took me in and made me feel less of a stranger in your streets, less of an "american in Paris"... :-)

I miss you painfully today and hate all of those who hate you busy roads, your every-corner Starbucks, your hispanic and black people, and even though are still given the grace to live in you! While I had to leave...

You'll be forever my life's city, my very own 'princess of the south' and, when I return, I'll make love to you again, running in your parks, "driving down 85", dancing in Eleven50... They'll never let me belong to you, but they can't take away the seed you planted in me. So long, ATL, I'll see you in one this life's crossroads!

Aug. 23, 2005. And today, again. Because you'll always miss what you love.

Táctica guerrilheira

- Tu não és minha mãe!
- Pois não. Mas sou mais velha, maior e mais esperta.
- ...
[olhadela irritada de sobrolho franzido]
- ... [sorriso Sensodyne]
- ...
[mirada de soslaio para o pai que não me quer desautorizar mas tem aquele olhar de lá-estás-tu-com-as-tuas-merdas-ela-é-só-uma-miúda]

- ... [sorriso Sensodyne]

- [Berreiro desalmado]

Qualquer dia experimento. Juro que tento. Quanto me provarem por á mais bê que não tenho razão e me tenho que remeter à minha insignificância abro as goelas e torro a paciência a toda a gente que esteja num raio de 150 metros da cadeira onde estou sentada.

PS - Instinto maternal? Não tenho.

QotD

Happiness is a dog. (by Navel)

23 fevereiro 2006

L'anamour

L'anamour
Serge Gainsbourg

Aucun Bœing sur mon transit
Aucun bateau sur mon transat
Je cherche en vain la porte exacte
Je cherche en vain le mot exit

Je chante pour les transistors
Ce récit de l'étrange histoire
De tes anamours transitoires
De Belle au Bois Dormant qui dort

Je t'aime et je crains
De m'égarer
Et je sème des grains
De pavot sur les pavés
De l'anamour

Tu sais ces photos de de l'Asie
Que j'ai prises à deux cents Asa
Maintenant que tu n'es pas là
Leurs couleurs vives ont pâli

J'ai cru entendre les hélices
D'un quadrimoteur mais hélas
C'est un ventilateur qui passe
Au ciel du poste de police

Je t'aime et je crains
De m'égarer
Et je sème des grains
De pavot sur les pavés
De l'anamour

Je t'aime et je crains
De m'égarer
Et je sème des grains
De pavot sur les pavés
De l'anamour



Je crains encore de m'égarer auprès de tes marges, Paris, ma lumière faite photo. Tes couleurs vont pâlir non plus. Je reviens. Encore une fois. Avec mes livres, mes cahiers, mon barret, mon robe noir et ma volonté d'aimer. Encore, je me chercherais dans tes rues, je me rencontrerais dans tes tableux, je me perdrais dans les tables de vin et fondue de fromage de la rive gauche. Un weekend à Paris, pour toucher l'âme, sourire et être joyeuse.

QotD

Common sense is the collection of prejudices acquired by age eighteen. (A. Einstein)

22 fevereiro 2006

DotD *

Houve controlo anti-doping ontem antes ou depois do Benfica-Liverpool?

* Doubt of the Day

Mulheres, saudáveis, solidárias

Espera-se que cerca de três mil participantes se associem à Corrida da Mulher que vai ter lugar no Domingo, dia 5 de Março, com o intuito de angariar fundos para a Liga Portuguesa Contra o Cancro.

As inscrições - só mulheres - são gratuitas e por cada pessoa inscrita a SportZone oferece dois euros à LPCC. A corrida parte, às 10h30,
do Parque de Estacionamento do Continente (em Matosinhos) e vai até à Rotunda de Gonçalo Zarco (Castelo do Queijo, no Porto).

Organizada em conjunto pela RunPorto, a Liga Portuguesa Contra o Cancro e a SportZone, a iniciativa quer demonstrar que
a correr ou a caminhar também se pode combater o cancro, uma doença que afecta uma em cada vinte mulheres.

Não é preciso ser campeã olímpica nem uma atleta de excepção para participar. A marcha é uma opção perfeitamente válida. No grupo em que vou seguem senhoras da idade da minha mãe que, não podendo correr, podem caminhar por este ideal perfeitamente feminista: usar o corpo que temos para ajudar a salvar vidas.

A malta do gerúndio

A coerência é uma escolha difícil. Obriga-nos, antes de tudo o resto, a ter consciência própria, o que é algo mais raro que âmbar-cinzento nos dias que correm. Depois, força-nos a trabalhar, a optar, a assumir. Dizer "faço isto" ou "não faço aquilo" ordena que tomemos decisões que implicam abandonar gostos, negar prazeres, subir escadas quando o elevador está perfeitamente funcional.

É por isso que prolifera por aí a malta do gerúndio. A malta que não fode, vai fodendo; que não anda, vai andando; que não sabe, vai sabendo. É a gente que se vai safando pelo Mundo, desenrascando uma vidinha cómoda, suave e modorrenta.

Mas, a mim, a minha vida dá trabalho. Custa-me, todos os dias, opções dolorosas. Porque em nome dessa dita decisão coerente vejo-me forçada a abdicar de experiências, de objectos e de pessoas que me fariam muito satisfeita. A consciente escolha pelas minhas posições e assunções faz-me, no entanto, muito feliz.

E é por ter firmemente optado pelo esforço da coerência que não tenho - nem tenho que ter - paciência ou tolerância pelas incongruências alheias que se plantem na linha da minha vida. Cada um - viva! o direito à licenciosidade individual, já lá dizia o Ministro - é livre de ir fodendo conforme lhe apeteça. Mas eu não sou obrigada a esperar que cada um decida sair de cima. :)

Simples.

QotD

The aim of life is to live, and to live means to be aware, joyously, drunkenly, serenely, divinely aware. (Henry Miller)

21 fevereiro 2006

Fale-se menos, faça-se mais

A UNESCO assinala hoje o Dia Internacional da Língua Materna o que significa, para mim e muito provavelmente para quem me estiver a ler, que se comemora o Dia Internacional da Língua Portuguesa.

Acomodados que andamos com o tradicional orgulho tuga, que se arroga tudo o que lhe é dado por inerência apriorista, esquecemo-nos que nada se mantém ad eternum e que a preservação da Língua Portuguesa será, quiçá, um dos maiores desafios nacionais deste novo século.


Exagero? Desenganem-se. Que direito temos nós, os falantes de português europeu, de imperializar uma língua que é já falada por mais brasileiros do que portugueses? Direito de nascença? Arrogamo-nos, demasiadas vezes, o direito natural de posse sobre a língua, esquecendo que, caso se desse a muito defendida cisão entre o dito "nosso" português e o apelidado português "do Brasil", os ferozes derrotados seriamos nós.

A língua, qualquer que seja, é uma entidade viva. Eternamente mutável e ajustável. Que importa pensar, orientar e adequar à evolução social. Sob pena de ser aniquilada no mero decurso da História.

Uma saltada ao Instituto Camões mostra-nos como anda bem mal cuidado o português. Ocultamo-nos atrás de iniciativas pomposas e de produtividade quase nula, alienando as populações e com a maleabilidade de um cadáver recente. Como em tudo, somos na Língua demasiado instituicionais e insuficientemente eficientes.

Eu, pela parte que me toca, ficaria bem mais descansada com uma versão republicana e lusitana da Real Academia Española. A bem da defesa de um Português que já não é o de Pessoa.

QotD

Sex is one of the 9 reasons for reincarnation... the other 8 are unimportant. (H. Miller)

19 fevereiro 2006

As desvantagens do ateísmo

E ao sétimo dia... trabalhou.

17 fevereiro 2006

E eis que a semana termina em luz!

Esta semana trabalhei, em média, 10 horas por dia. Tive quatro horas de espanhol. Cinco horas de ginásio e duas de piscina. Um aniversário, dois "cafés", uma peça de teatro e uma sessão de cinema. Quatro reuniões de trabalho, para duas das quais viajei mais de 250 quilómetros numa só manhã. Passei umas boas horas ao telefone com amigos, respondi a cartas e emails de gente que me é querida. Fui escrevendo por aqui e por outros lados. Dormi em média 6 horas por noite. Ando mantida a comprimidos de cafeína e amanhã cedinho tenho que me mandar para Lisboa. O estado geral não será tão mau como possam eventualmente imaginar, porque a resistência física e mental é muita. No entanto o cansaço está cá e fazia deste final de tarde um período difícil.

Mas acabaram de me telefonar. De me oferecer uma noite única que já não esperava ter a oportunidade de viver. Vou ter que passar o planeado jantar de aniversário para um improvisado copo de cumpleaños. Mas, por Murphy!, vai valer a pena.

Não há cansaço que resista ao desfrute absoluto dos sentimentos verdadeiros!... Obrigada! :D


Absolut turn-offs I

Child's chair on the back seat of the car.

(I'm really sorry... :S But there's no antecipation strong enough to deal with fatherhood while you're just trying to fuck...)

QotD

Stop trying to control everything and just let go. (Fightclub)

16 fevereiro 2006

Acabei de descobrir...

... que tenho uma costela de elefanta.

E siga a rusga!

Seguindo o desafio do Nuno:

1. Mania-base - Não tenho manias. Eu, manias? São loucos, eu tenho é um feitio todo ele muito especial que se manifesta de formas muito únicas e personalizadas!

2. Mania cromática - As cores combinam-se. O preto nunca vai com o castanho nem com o azul marinho, a capa de edredão tem que ir com as cortinas, os sapatos devem ir com as carteiras. Nunca monocromática, sempre coordenada.

3. Mania geométrica - O meu congelador só tem caixinhas plásticas, parece a câmara de criogenação de um laboratório; as linhas retas aplicadas à decoração foram inventadas por mim, não pelo Stark; os frascos e embalagens da despensa estão organizados segundo um sistema de consulta fácil, por tamanhos e cores; a comida nas travessas vai por secções. E por aí fora.

4. Mania indexada - Recorto artigos e fotos de periódicos e arquivo-os em pastas classificadas por temas. Tenho um ficheiro bibliográfico e outro musical com entradas individuais para todos os meus livros e CDs, com informações-base e opiniões de leitura e audição. A minha agenda pessoal tem tudo o que não me posso dar ao luxo de esquecer, desde os livros que quero comprar ao dia em que tenho a próxima manicure; datado e com horário. Tenho outra para o trabalho.


5. Mania da organização - A roupa interior está nas gavetas, primeiro, por tipo, depois, por cores. A lavada entra por baixo da que já lá reside. As prateleiras dos livros e os arquivadores de CDs são sagrados; quem use e não reponha no sítio original corre risco de expulsão. O relógio, o anel e a pulseira ficam na mesa da entrada, no canto direito, ao lado das chaves de casa e do carro.

Sou ou não uma mulher singela e sem manias? ;) O que se passa é que sou terrivelmente esquecida e perfeitamente incapaz de seguir rotinas. Ou seja, se não me organizar nas merdas pragmáticas perco-me no meu dia-a-dia. Simples. :)


Para as vítimas que se seguem [Loira, Martini, Navel, Coroneu e CHV]:

"Cada bloguista participante tem de enumerar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que os diferenciem do comum dos mortais. E além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do "recrutamento". Além disso, cada participante deve reproduzir este "regulamento" no seu blogue."


QotD

A faithful heart makes wishes come true. (Crouching Tiger, Hidden Dragon)

15 fevereiro 2006

"Que bailemos en las calles!"

Que un beso te quite el sueño
cuando pareces dormida
que enciendas con tu mirada
la luz de la vida mía.

Que el corazón se me estalle
cuando me toques el alma
y la piel se me derrita
con tu piel enamorada.

Que un beso nos lleve al cielo
volando en tus sentimientos
que se expanda una caricia
gritando a los cuatro vientos.

Que te amo con desespero
como loco en luna nueva
que cuando no estas conmigo
la tierra se me acelera.

Que tus manos y tus besos
me lleven a lo que siento
que un rayo que alumbre el sueño
destelle este sentimiento.

Que me arrulles con tus cuentos
que me robes las cobijas
que volvamos a ser niños
jugando a las escondidas.

Que bailemos en las calles
que me regreses la calma
que la piel se me derrita
con tu piel enamorada.

Que un beso nos lleve al cielo
volando en tus sentimientos
que se expanda una caricia
gritando a los cuatro vientos.

Que te amo con desespero
como loco en luna nueva
que cuando no estas conmigo
la tierra se me acelera.

Que tus manos y tus besos
me lleven a lo que siento
que un rayo te alumbre el sueño
destelle este sentimiento.

Te quiero cariño santo
te adoro mujer divina
tú eres la cosa más bella
la que me alegra la vida.

Y decirte a la mañana
cuando se aparece el día
por la tarde, por la noche
que eres la única en mi vida.

Y que te amo con desespero..

Yo vine a buscarte
para que salieras
y que me llevaras
a donde tú quieras.

Yo salí a buscarte
y llueva que llueva
pero voy cantando
por la carretera.

Digan lo que digan
yo no tengo pena
que yo voy contento
pa´la luna.

Luna Nueva, de Carlos Vives


Un ritmo triétnico, con influencias europeas, indígenas y africanas, el vallenato es uno de los ritmos del Caribe que tiene más sabor y sentimiento. Sus letras son costumbristas, cuentan las historias y vivencias que le pasan a la gente caribeña. Cuando uno escucha vallenato siente que está escuchando algo auténtico, algo que uno ha vivido o ha visto. La música vallenata, que tiene más de cien años de historia, procede de la costa caribe de Colombia.

Y... A bailar! :)


QotD

Life is the art of drawing sufficient conclusions from insufficient premises. (S. Butler)

14 fevereiro 2006

Não se foge a quem se é

Terça-feira, 7 de Março - Porto-Londres
Sexta-feira, 10 de Março - Londres-Paris
Domingo, 13 de Março - Paris-Londres
Segunda-feira, 13 de Março - Londres-Porto


Tudo, pela módica quantia de 250 euros. Com alojamento de borla. Tem dias que adoro a minha vida!

TofD*

A exaustão é o melhor dos caleidoscópios. Tudo assume a sua real dimensão à luz do cansaço físico extremo.

* Thought of the day

13 fevereiro 2006

Note to self

Treinar intensivamente a mágica arte de aprender a esperar que os outros peçam ou ofereçam primeiro.
Exercitar arduamente a capacidade de perceber que não há lá muita gente que mereça a dádiva desinteressada; aliás, que não há lá muita gente que, sequer, a queira. Porque implica algo que não sabem nem querem dar.
Objectivo a médio-prazo: concluir que o mundo é feito de enganos e que, portanto, a reacção inicial deverá ser a de descrença. A crença deverá vir apenas em última análise, após a prova cabal dos factos a justificar.
:)

Fiéis companheiros

Os meus são pequenos, medem 9 por 14 centímetros. Têm cadernos cozidos. O papel é fino, mas resistente, de excelente qualidade, aguenta esferográfica, carvão, marcador, caneta - sempre a negro. O branco das páginas é suficientemente impuro para não me ferir os olhos quando escrevo na praia. Uso-os sempre lisos, para deixar correr a vontade de margem a margem.


Uso as últimas páginas, aquelas que têm picotado, para as notas que pertencem a outras casas mas que a ânsia não deixa esperar. Têm capas pretas, duras, mas flexíveis. Resistentes à chuva, ao chá, ao suor, ao Martini. Cabem-me nos bolsos dos casacos, encaixam-se nas laterais das carteiras, escondem-se nos recantos do carro. Cada vez que desfloro um sinto aquele prazer absurdo que é estrear algo novo. Quando os encerro sinto-lhes o peso e deixo-os na secretária por uns dias. São caros, um luxo nos dias que correm. Mas o que lhes gravo por dentro merece.

O português empalidece sem vernáculo

Eu, praguejadora, me confesso. Como diria a santa da minha bisavó, que nunca conheci a não ser através dos relatos de memórias alheias, tenho uma boca de lavagem. Sai-me. Digo "merda", "foda-se", "caralho", "filha da puta" e por aí fora. "Cabrão" parece-me pálido, não cumpre o desejado intuito semântico na sua totalidade. Sai-se-me de tudo. Curioso é que em casa dos meus pais nem "porra" me admitiam.

Mas aqui chegamos ao primeiro ponto onde bate a questão, certo? As palavras têm apenas o significado que lhes damos, já dizem algumas teorias da comunicação que a interpretação da mensagem depende mais do psicossomatismo do receptor do que propriamente dos restantes elementos do processo. "És um bom filho da puta" pode dar internamento hospitalar em alguns contextos e resultar em pancadinhas compinchas nas costas noutros, por exemplo. Uma palavrota, como lhes chamam nuestros hermanos, proferida no calor de algumas refregas pode ter muito maus resultados. Ou, então, desfechos deliciosos. Há de tudo, é como nos hipermercados.

O que deriva o tema, no caso do nosso cantinho, para a questão da aculturação. Portuense de criação, toca-me agrafar a língua entre os dentes quando convivo com gente de outras paragens. Há umas semanas atrás até malta da Figueira estranhou - e eu acho que a Figueira está a Norte. Mas enfim. O facto é que não conheço muitos sulistas que praguejem com convicção; ainda me surprende ouvir um "caralho" dito com determinadas pronúncias. E aconteceu-me um episódio extremamente embaraçoso, há um mesito atrás, quando disse a uma bem bebida mesa alfacinha "Ah, mas ela é uma puta das velhas!". Nem queiram saber. E é que era um sentido elogio! Já não corava assim há... Oh-lá-lá!

Por outro lado, sou mulher e daqueles a quem o facto se nota. O que não ajuda. Admito que seja pouco feminino ouvir uma dama encaralhar como um estivador, essas grandes figuras da nossa imagética que servem mais para os livros que para os carregos já que eu, pelo menos, nunca conheci nenhum estivador. Mas a asneirada ainda é muito conotada com a agressividade e a agressividade ainda está muito ligada à testosterona. Nunca conheci um homem que não franzisse o sobrolho ou subisse as sobrancelhas da primeira vez que me ouve uma daquelas que vêm da alma. :) (Entenda-se que eu também não uso vernáculo como se fossem preposições, e há ambientes em que o evito, como o profissional, não vão pensar que ouvir-me é equivalente a assistir a um filme francês dos anos 90.)

Irritam-me tanto os pseudo-educados que apenas recorrem a um convicto "foda-se" no papel de literatos escritores, como os supostos intelectuais que abominam o futebol, esse "prozac-das-massas". Também me irritam as mulheres que falam ao gritinhos e os homens que andam como se tivessem uma bigorna no escroto. E irritam-me muitas outras coisas, mas isso agora não vem ao caso.

Cada um é livre de usar os vocábulos que lhe apetecer, entenda-se. Mas o vernáculo faz parte da língua portuguesa. Mais importante ainda, da língua viva. Não me parece um crime usá-lo e eu, pela parte que me toca, acho que pode enriquecer o discurso. Exponenciar os diálogos. Colorir as relações. :)

QotD

Where love is great, the littlest doubts are fear; Where little fears grow great, great love grows there. (Hamlet)

10 fevereiro 2006

Scrapbook

Voo CO65Y

Três anos. Correram à velocidade de três dias e fizeram-se sentir com a intensidade de três vidas. No dia 10 de Fevereiro de 2003 começou o resto da minha vida. O tal primeiro dia que o outro me canta ao ouvido até hoje.

Hipotequei o meu companheiro, abandonei a minha casa, desertei dos meus pais, parti a minha cidade, suspendi os meus amigos. Lancei-me ao desaforo que sempre tinha carregado no peito e engoli o mundo de um só trago. Aprendi a viver da única forma que alguma vez serei capaz - desaforadamente. Corri, parei e apaixonei-me. Amei como nunca antes na vida. Senti o poder inebriante da felicidade diluído no sangue, acariciei a beleza do novo mundo com os sorrisos da plenitude, conquistei o teu corpo com a paixão da entrega absoluta de quem se sabe amada. Lutei, joguei armas no campo do destino, virei a corrente contra a nascente e fiz os deuses negros perceberem que contra a minha força de mulher nada podem!!

Mas onde os deuses se renderam ergueu-se o teu direito de escolher. Quebrei. Faltou-me debaixo dos pés o único chão que me sustinha e perdi-me no espaço para lá da minha tin can com um último som nos lábios: tell my husband I love him very much, he knows...

Pela segunda vez em tão poucas décadas salvaram-me a vida. Enfiaram-me debaixo do chuveiro e mostraram-me o mundo lá fora, um mundo que extraordinariamente não tinha afinal implodido ao sabor da carnificina da minha angústia. A vida continuou. Mas não como a conhecíamos. As marcas do ferro em brasa e da agulha recheada de tinta rasgaram a pele, tocaram a carne, levaram putrefação ao miolo dos ossos. Camas passaram, ilusões partiram, mãos correram, ideias entraram, palavras soaram. Algumas ficaram...

Agora, quando os olhos pousam sobre a linha do horizonte não vejo mais a vida que foi. Vejo a vida que sou. Louca, forte, única, voraz, dedicada, desenfreada, decidida.

Venham mais três!!

Partilhado com L. que viveu comigo todas as lágrimas destes três anos. Que me viu amar, rasgar as mãos, suturar o coração e continua aqui bem perto, sentindo como eu a saudade infinda da rainha do Sul... Obrigada - por tudo o que ainda não te agradeci. We'll always have 2003 in our memories and the ATL in our hearts!

QotD

If it turns out that there is a God, I don't think that he's evil. But the worst that you can say about him is that basically he's an underachiever. (Woody Allen)

09 fevereiro 2006

QotD

Live well. It is the greatest revenge. (The Talmud)

07 fevereiro 2006

Veggie & pasta

Falar sozinha quando chego a casa está a dar comigo em doida. Ontem dei por mim, à uma da manhã a relatar à (apagada) televisão da cozinha como tinham corrido as 10 horas de trabalho do dia...

So, lucky you. Quinta-feira há jantar lá em casa. :-D Tostas de queijo gratinadas para começar. Fettuccine com molho de natas, cogumelos e bacon. Para os vegetarianos, tomates recheados al forno e quiche de beringelas. O indispensável tinto rioja que é a marca da casa. Mousses de frutas para a sobremesa, que aquilo é casa de gente saudável.

Para quem me conhece suficientemente bem para saber onde moro, é às 20h30. ;-)

Ah, e a partir da 7ª inscrição a comparência implica que levem a sua própria cadeira, eheheh

14 dias de terrores, mistérios e vampiros...


Vem aí a 26.ª edição do Fantasporto. Entre 20 de Fevereiro e 5 de Março, o Porto recebe, novamente, um dos melhores festivais de cinema do mundo ("Variety" dixit).

Já não assisto ao Fantas desde 2002 e confesso que é dos eventos nacionais que aguardo com mais expectativa. O cartaz promete 250 sessões de cinema distribuídas por cinco salas: o lindíssimo Grande Auditório do Rivoli, o intimista Pequeno Auditório, o blockbuster-seller AMC Arrábida 20, o recém recuperado e por mim muito amado Passos Manuel e a simpática biblioteca Almeida Garret, ali encaixada entre o Palácio e o Solar do Vinho do Porto.

200 novas longas metragens. Horas e horas de emoções no ecrã. Ainda não sei preços, mas o investimento cultural do mês vai direitinho para o passe geral para os 14 dias. Também ainda não ouvi nada sobre o Baile dos Vampiros (que, seguindo a tradição, deverá ser antecipado para a véspera de Carnaval, segunda-feira, dia 27), mas às 23h59... lá estaremos... Morticia looking! ;)

QotD

The power of accurate observation is commonly called cynicism by those who have not got it. (G. B. Shaw)

06 fevereiro 2006

Valor da amizade

Pelas voltas da vida o acaso planta-nos no caminho pessoas especiais. Amigos que se ganham, laços inquebráveis que nem os destinos perdidos podem romper.

Três anos depois, obrigada pelo reatar das amizades. Obrigada pelos jantares de aniversário e pelas conversas de copos. Obrigada por aceitarem a ausência. Obrigada por voltarem à minha vida.

Porque o que nos uniu há nove anos atrás nunca deixa de fazer sentido. É simples. É puro. É pura amizade.

A JJS, FL e DA. Pelo reencontro.

Resolução do Conselho Ministerial Doméstico n.º 7/2006

Acabou de ser sancionada a verba do orçamento familiar de 2006 destinada à prossecução dos objectivos culturais e de entretenimento de curto-prazo: 42 euros para Depêche Mode em Julho e 75 euros para Rolling Stones em Agosto.

QotD

C'est facile, c'est tellement plus facile de mourir de ses contradictions que de les vivre. (Albert Camus, Les justes)

03 fevereiro 2006

História de um Plano e do Gato que o ajudou a voar

Esta semana, o homem mais rico do mundo e fundador da Microsoft, Bill Gates, o primeiro-ministro português, José Sócrates, mais 10 ministros e a nata do sector económico público e privado do país assistiram e ou participaram na assinatura do memorando de entendimento para 18 acções de colaboração entre o país e a Microsoft.
(...)
Para a Microsoft, habituada aos acordos comerciais (enterprise agreements) que assina com diferentes países para contratos globais de licenciamento a preços preferenciais, este conjunto de acções constitui um projecto-piloto a nível internacional, sem frutos imediatos.


Ler o restante artigo do Público.


Acções de formação para o sector têxtil, desenvolvimento de software de reconhecimento da fala, validação da "Novas Oportunidades" através do curriculo "Literacia Digital", participação nos cursos de especialização tecnológica e, pelos vistos, mais 14 iniciativas que eu não apanhei.

Parece-me maravilhoso. Só fiquei com uma dúvida: o que é que ele leva em troca?

Eu sei, desculpem, mas lá diz o néscio que quando a esmola é muita...

Confirmada má notícia do dia

Um barco de passageiros egípcio, com mais de 1.400 passageiros, afundou esta noite no Mar Vermelho, ao largo da costa saudita. A bordo seguiam maioritariamente famílias egípcias que regressavam a casa das férias escolares ou de uma peregrinação a Meca.

Até às 14h13 (GMT) tinham sido resgatados cerca de 100 sobreviventes. Ainda não foram esclarecidas as causas do afundamento

Os limites do respeito

Quatro jornais europeus - o francês France-Soir, o italiano La Stampa, o alemão Die Welt e o espanhol El Periodico - reproduziram na passada quarta-feira, dia 1 de Fevereiro, uma série de caricaturas que associam o profeta Maomé ao terrorismo. Os desenhos já haviam sido publicados pelo diário dinamarquês Jyllands-Posten e causaram revolta entre os muçulmanos, provocando um conflito diplomático entre a Dinamarca e o mundo islâmico e um boicote a produtos dinamarqueses no Médio Oriente, uma vez que a tradição islâmica proíbe a divulgação de desenhos ou imagens do profeta.

A liberdade de expressão é uma conquista da sociedade moderna que me é particularmente grata e que permite pôr uma bomba na cabeça de Maomé, como já autorizou um preservatido no nariz de João Paulo II.


Por outro lado, a liberdade de culto é uma segunda característica do mundo actual que contribui para o meu orgulho como cidadã e que prevê o respeito pela opção do indivíduo em seguir os dogmas de qualquer religião. (O problema começa, em efeito, no facto de termos passado a conotar o islamismo com o terrorismo, mas isso fica para outro post.)

Afinal, onde começa o nariz islâmico??

(Tinha pensado ilustrar o post com a dita caricatura, mas chega cá alguma gente através do Google e do Cedilha e do directório do Blogspot e não vá o diabo tecê-las... ;) )

Ai Portugal, Portugal!...

Que a pronúncia inglesa da Judite de Sousa seja uma merda, eu até dou de barato: sempre admirei o mon ami Mitterrand do Soares. Agora, que dê erros gramaticais parece-me miserável! A pronúncia é dispensável, a correcção linguística parece-me exigível. Seja com o Bill Gates, seja com o John Smith, de Morrow, GA. Não há mais entrevistadores na RTP, é??

A propósito, avisem as senhoras e os senhores da tradução e da legendagem da televisão pública que "spread sheet" já tem equivalente em português. É "folha de cálculo".

QotD

Deixo vagarosamente cada ser que amo, vagarosa, cuidadosa, completamente. Digo-lhes o que lhes devo e que me devem. Guardo-lhes os últimos olhares e o último orgasmo.

Anaïs Nin, A Casa do Incesto (lá em casa, aka "O Guia Fundamental para uma Vida Sã")

01 fevereiro 2006

"Pedaços"

O chão dos teus passos pequenos molhado de mim, disto que me cai e não me leva, que cai e continua a cair e cai sozinho, vazio, sem carregar isto que me faz molhar os teus dedos neste chão de não te ter. Penso nas tardes em que vínhamos da praia, penso na areia pregada- Vamos jogar ao jogo do esconde de uma maneira diferente: tens de encontrar cada grão de areia que tenho no meu corponunca ganhei esse jogo, nunca consegui perceber como é que havia sempre um grão a mais escondido na tua pele – mas ganhava sempre, ganhava suor, ganhava paixão, ganhava-te: era nos momentos de prazer que te sentia exorcizada de ti, esvaída dos pensamentos, nem que fosse só naqueles pequenos pedaços de segundos em que eras orgasmo e não razão.

Assumidamente importado do blog de Pedro Chagas Freitas. Em homenagem a "Mata-me" e em antecipação dos que se seguirão.

QotD

He who does not love life, doesn't deserve it. (Leonardo da Vinci)