28 fevereiro 2007

Dear C.,

Não tenho andado muito por perto, eu sei. O tempo não chega sequer para uma Boémia no Bonaparte, quanto mais para uma longa conversa com a alma entre o prato de amendoins e o copo gelado. Mas continuo a saber e quero que tu também saibas. Aceitação não é sinónimo de conformismo. E, vendo bem as coisas, there is only so much one can do.

Por vezes, a vida salta-nos por cima, como se não passassemos de um cilindro branco numa pista de hipismo. Mas nunca é mais forte do que nós quando sabemos quem somos e o que dela queremos. Um universo em permanente expansão, cada um de nós. E um ou outro ocasional buraco negro não chegam para nos desmembrar as galáxias... ;-)

23 fevereiro 2007

Os homens e o que eles dizem que querem

Ponto prévio. Todas as generalizações são aprioristicamente falaciosas.

Vem tudo de uma repetição que me habituei a ouvir dos lábios de homens com quem me cruzo: "tu és assustadora" ou (versão suave) "deve haver muitos homens que se sentem assustados contigo". E acho que nenhum até agora se referia camufladamente ao meu aspecto físico.

Desta constatação tão óbvia aos olhos dos cromossomados Y com quem ainda me dou ao trabalho de manter um diálogo, resulta uma certa conotação entre assustadora/ameaçadora. O que me vão dizendo é que uma mulher inteligente assusta a maioria dos homens. O que me continuam dizendo é que uma mulher que sabe o que quer, que conhece o seu lugar no mundo, que age em coerência com as suas convicções, que vive independentemente das regras sociais estabelecidas e que consegue manter os neurónios em movimento ao mesmo tempo que faz solário é algo com que os homens não sabem lidar.

Não me venham com tretas, eu não sou uma nova espécie de nada, sou semelhante a várias outras mulheres. Ergo, esta não é uma questão que me seja exclusiva.

Aceito e compreendo que uma mulher com estas características possa ser factor de insegurança para um homem, na mesma medida em que aceito e compreendo que um homem com estas características seja um factor de desafio para uma mulher. A única coisa que me confunde o esquema é a esquizofrenia patente entre o que certos homens afirmam desejar de alma, corpo e coração e a reacção que a corporização desse desejo despoleta.

Ou seja. Há homens que querem o the whole package, mas que recuam quando com ele se cruzam pelos caminhos deste mundo. Parece-me, no mínimo, hipócrita. Comprovadamente idiota é-o sem apelo nem agravo.

Ponto póstumo. Prove me wrong.

19 fevereiro 2007

Bushisms

I was going through my US stuff, searching for my social security, my driver's license, my Tom & Jerry check book, my ATM card, and I found a 2004 one-leaf-a-day calendar (one of those you usually see in movies, the little square ones), with a George W. Bushism for each and single day of the year. I believe they have been able to reprint it every year with new Bushisms, but it's always worth reviving...

Today's Bushism was "For a century and a half now, America and Japan have formed one of the great and enduring alliances of modern times." (Tokyo, Japan, February 18, 2002)

Two words, Mr. Bush... Harbour. Pearl Harbour.

LOO-OOSER!

13 fevereiro 2007

Quando duas coisas boas se juntam...

O Moleskine acaba de criar os city notebooks.

Barcelona, Paris, Viena, São Francisco, dentro de um Moleskine. Ou, tudo ao contrário, um Moleskine aberto nas mãos e nós dentro das ruas de Barcelona, Paris, Viena, São Francisco...
Sou cada vez mais uma mulher feliz.

08 fevereiro 2007

The all-American writter...

Touchstone, an imprint of Simon & Schuster, has promised to publish a book by a first-time author who wins a contest on Gather.com, a social-networking site that might be described as MySpace for grown-ups. (NY Times)

If you feel like trying out your skills in Uncle's Sam turf... You can still submit manuscripts.

Besides getting published, you can also win a 5.000USD prize. Who says writing doesn't make a living?? :-)

06 fevereiro 2007

I am.


Some people say "I do". I chose to say "I am".

02 fevereiro 2007

Reverse cultural shock

Há uma faixa de amigos (Navel, Guronsan, Coroneu, Jô) que por aqui passam que sabem do que falo. Já nos doutrinaram nos vários síndromes do Expat-Repat, já conhecemos casos mais graves do que os nossos, já por lá passámos, de lá saímos e para lá estamos prontos (quiçá?) a voltar.

Há resíduos, no entanto, que permanecem. Hábitos que incorporámos e que, apesar da sua absoluta e total falta de aplicabilidade pragmática na realidade para a qual voltámos, seguem entranhados nos nossos instintos. Não virei gringa ao ponto de defender até à irracionalidade o modus vivendi americano, mas à medida que o tempo se vai escoando há detalhes que deixam carências.

Nos países ditos latinos - e, por inerência, em Portugal que é o que nos interessa - as relações sociais-sexuais-emocionais produzem-se num emaranhado de interesses, invejas, ciúmes, raivinhas, luxúrias, casos-mal-resolvidos, disfarces e gulosices que me incomoda. Por comparação/oposição, nos países de herança anglo-saxónica - e, por inerência, nos EUdaA que é o que me interessa - o jogo socio-sexo-emocional é feito com maior descontracção e melhor fair-play. Bons e maus, defeitos e virtudes, gostos e ódios fora da equação, o que resulta é uma vivência emocional quotidiana mais transparente para os anglo-saxões, que lhes deixa, inclusivamente, a cabeça liberta para o que realmente importa fazer na vida.

Acho que acabei de descobrir que a falta de produtividade nacional está intimamente ligada à portuguesa forma que temos de nos preocuparmos mais com um eventual parceiro do que com a nossa própria vidinha.

01 fevereiro 2007

Do corpo. Do homem.

Statue, detail. Dublin's Castle.

All dreams of the soul
End in a beautiful man’s or woman’s body.

William Butler Yeats, “The Phases of the Moon.”

He shall love my soul as though
Body were not at all,
He shall love your body
Untroubled by the soul,
Love cram love’s two divisions
Yet keep his substance whole.
William Butler Yeats, “The Lady’s Second Song.”

Ireland's Eye, Howth, Dublin county


The land of faery,
Where nobody gets old and godly and grave,
Where nobody gets old and crafty and wise,
Where nobody gets old and bitter of tongue.

"Land of Heart’s Desire" William Butler Yeats (1865-1939)


O rosto de Judas

The Taking of Christ (1602) - Michelangelo Merisi da Caravaggio
Oil on canvas, 133 x 169 cm
National Gallery of Ireland, Dublin


And while he yet spake, behold a multitude, and he that was called Judas, one of the twelve, went before them, and drew near unto Jesus to kiss him. But Jesus said unto him, Judas, betrayest thou the Son of man with a kiss?
(Luke 22:47-48)

É com o toque que chega a consciência da traição. É ao sentir o calor de Cristo no peito, que Judas sabe, sente, percebe. Ensandece na humilhação do horror que cometeu. É neste momento exacto que começa o arrependimento. Caravaggio viu-o de alguma forma. Retratou-o. Com dolorosa e transcendente exactidão.
Instante decisivo. Em luz e sombra.

Homem de Cristal

Terra firme em mar revolto.
Mão segura entre as tremuras da vida.
Inspiração desgarrada num caminho tortuoso.
Mente, rosto; pena e gume.
Verso solto, sorriso tímido, verdade desprendida.
Moral que pensa, toque que queima, voz que ecoa.
Irmão de alma. Poeta. Espelho de amor.


Tudo isto és na minha vida. Não to sei agradecer de nenhuma outra forma.

Feliz aniversário.