14 junho 2007

O amor como ele é

Hesitações, risos, lágrimas.

Há no "Lady Chatterley" de Ferran uma puerilidade intrínseca, um inatismo instintivo que descartam tudo o que foi algum dia feito em torno da obra de Lawrence. Sexo despido de sedução, cheio dessa animalidade tão humana que aprendemos a desprezar ao longo da vida em sociedade. Excitação e desejo em estado puro, sem máscaras ou artificialismos, cheios das brincadeiras que vêm com a descoberta do corpo alheio.

Esta é a estória de uma Constance e de um Parkin que só uma mulher, francesa e feminista, poderia filmar. Baseado na segunda das três versões que David Herbert escreveu sobre a senhora de Chatterlay ("John Thomas and Lady Jane"), este é um filme cru, no mellhor dos sentidos.

Cheio da cor, dos sons (o trabalho de edição sonora é brutal) e dos silêncios do cinema europeu (que tendemos a esquecer, afogados que andamos no hábito do espectáculo americano), "Lady Chatterlay" tem erros, crassos alguns, de planos; há meia dúzia de cortes abruptos e gags de edição. Que não chegam, sequer, para arranhar o trabalho de realização, já que tudo o resto... simplesmente está lá. A construção, crescente, das personagens que se definem no ecrã e que quase à sucapa nos entram pela pele. O riso espontâneo pelas graças inteligentes. As cenas de sexo que se repetem na dose exacta e que são filmadas do ângulo perfeito. As metáforas imagéticas e cénicas que acompanham o enredo sem se tornarem óbvias.

Uma corrida pela chuva e um jogo de flores que comovem porque chegam na altura exacta em que já nos identificamos com um casal real, de corpos verdadeiros e vontades reconhecíveis. Um final fiel ao instinto de Lawrence que recompensa a transgressão sem a transformar no proverbial conto de fadas. Brilhante.

Nomeado para nove Césares, arrecadou cinco: Melhor Filme, Melhor Actriz, Argumento Adaptado, Fotografia e Guarda-Roupa. Recebeu ainda dois Lumière (Melhor Actriz e Melhor Realizador), um Louis Delluc pela Realização, o galardão de Melhor Actriz do Festival de Cinema de Tribeca e duas Étoiles d'Or para Revelação Feminina e Melhor Filme.

Da crítica:
"Lírico, delicado e rude" (Cécile Mury)
"Uma crónica de amor, marcada por uma verdade profunda e uma honestidade comovente" (Ouest France)
"Recordando a origem do desejo e o seu amadurecimento" (Julien Elalouf)


Eu toco a tua se tu tocares o meu. Haverá algo mais real?

1 Somethin' Else:

Blogger cuotidiano escreveu...

"Eu toco a tua se tu tocares o meu. Haverá algo mais real?"

Lindo! Realmente lindo!


Beijo

junho 17, 2007 1:57 da manhã  

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