29 junho 2006

Pinguins, orcas e gaivotas


Uma boa encenação, um cenário bem pensado e uma série de diálogos engraçados fazem do Submarino uma peça que vive das suas duas personagens, dos seus dramas e gargalhadas, num palco onde os excertos musicais, num jazzy tune descontraído, enquadram a passagem do tempo. O público (aquele que dizem que no Porto é difícil, mas que depois de conquistado não se poupa) acompanha com risos, gritos, assobios e palmas um texto que deixa memórias:

"Eta, meu anjo! Por que janela entrou voando??" (M. Falabella)

"Se eu sou um mocho, vamos piar os dois a ver se a gente se entende." (M. Falabella)

"Onde um não quer, dois não brigam." (M. Falabella)

"- Se eu sou assim uma merda tão grande na cama, porque é que não queres que me vá embora?! (T. Guilherme)
- Porque eu sou um pinguim... (M. Falabella)"

"- Você está fodendo com outro homem? (M. Falabella)
- Tou fodendo, sim. Mas não toooouuuu fodeenndooo... (T. Guilherme)"

"A intimidade é um risco que só se deve correr com quem não se tem intimidade" (T. Guilherme)

"Então é porque não há amor. Porque quando nós amamos a primeira coisa que fazemos é estragar tudo." (T. Guilherme)

"O importante na vida não é acertar, é errar erros diferentes." (T. Guilherme)

"Você acha que é só colocar o barco na água e deixar o trabalho todo p'ràs marés, mas não é assim, você precisa de um farol. Eu pensei que podia ser o seu farol." (M. Falabella)

"Ninguém passa por ti impunemente." (M. Falabella)

[Ainda por cima percebi porque é que tenho a mama direita maior do que a esquerda... ;-)]

Grazie, M., pelo convite.

28 junho 2006

De regresso ao hemisfério certo

Faço novamente parte dessa elite que, de Ferreira do Alentejo a Hong Kong, se orgulha de ser info-incluída.

Ainda só tive tempo para fws e replys básicos, até porque já vou pela porta fora outra vez. Permitam-me pelo menos um dia para vos responder convenientemente aos comentários, mails e posts, vale?

Place de l'Étoile

Nove faixas de rodagem que giram sem regras e doze saídas possíveis que escondem sabe o destino que avenidas congestionadas.

Faço o que devo e sigo na empresa sem preocupações?
Faço o que às vezes me apetece e só trabalho como freelancer, nem que tenha que lavar pratos quando não houver trabalho?
Continuo na cidade onde nasci, com muitos amigos à mão e a família bem por perto?
Deixo-me convencer e regresso a Lisboa?
Perco a cabeça e mando-me para Barcelona?
Perco ainda mais a cabeça e vou para o Algarve?
Volto às andanças do monster.com e reencaro os gringos como a minha melhor hipótese de futuro?
Vou ter com elas a Londres?
Faço o mestrado? Em Santiago ou Salamanca? Ou Barcelona? Ou MBA no INSEAD?
Aceito o desafio e dedico-me a tempo inteiro ao ensino e à formação?
Sintéticos outra vez ou finalmente psicanálise?
Continuo a negar o compromisso ou comprometo-me?

Too much time on my hands, that's what it is...


26 junho 2006

Engenho e arte

Não estive em Portugal durante o Euro 2004. Nem quando o Porto venceu as últimas Liga dos Campeões e Taça UEFA. Por isso mesmo, assistir aos jogos da selecção nas praças públicas deste país é, para mim, um processo empírico em curso. :-)

O jogo com a Holanda foi o melhor case-study deste Mundial até agora. O efeito multidão está sobejamente estudado, mas o exemplo tuga merecia mais detalhe. As decorações, como demonstram as imagens, são do mais engenhoso que imaginar se possa: socorrendo-nos dos instrumentos minimalistas que haja lá por casa conseguimos construir verdadeiras obras-primas do kitsch.



Mas o que mais me fascina é a capacidade de criar literatura que caracteriza os nossos adeptos. Quando entrámos nos seis longos minutos de descontos finais, ouve-se na praça do El Corte Inglés o melhor cântico dos últimos anos "Outra veeez, outra veeez, a Holanda c'o caralho* outra veeez!".

Brilhante! É que somos mesmo os maiores! ;-)

[ * ir com o caralho (gros.) - ser eliminado, ficar fora do jogo, perder.]


Mnemónica precisa-se

By the way, alguém se lembra daquela musiquita que se cantava nas Antas quando alguém à nossa frente ficava de pé e não nos deixava ver o campo? Acho que metia um "ó palhaço" lá pelo meio, mas varreu-se-me da memória...


É que foi....

...a puta da loucura.


Chegada a casa às sete da manhã, tão... alterada que as luzes do carro pelos vistos ficaram ligadas até a bateria se esgotar. Sendo que o Smartmobile é um daqueles electrodomésticos que apitam desalmadamente quando se tira a chave da ignição e alguma coisa fica fora do sítio, ter a bateria descarregada à saída para a praia no Sábado à tarde foi mau sinal.

Um jarro de sangria branca, um número perdido de orgasmos e sei lá eu bem quantos finos (por pessoa, entenda-se) fizeram um S. João que resultou em manchas de café no casaco, na t-shirt, nos jeans e na roupa interior, numa temperatura corporal tão fora do normal que até agora não sei o que foi feito das meias e numa tal alteração do discernimento que, por muito que tente, não me lembro em que estação de serviço demorei uma hora a comprar tabaco... Pelo menos fiz o alfacinha admitir que no Porto se vive melhor do que na capital. ;-D

Pois (aqueles que não vieram) não sabem o que perderam. Desde 2001 que não passava as festas na Baixa e juro pelas alminhas - minha incluída, que é para ser coerente - que hei-de ser velha e ainda gostar de levar e dar marteladas, de dançar o que quer que seja em comboi-inho na Ribeira e de me comover com o fogo de artifício que faz da noite dia bem ao lado da ponte de D. Luiz.

A celebração profundamente pagã da noite mais curta do ano é algo que só se pode sentir pelas ruas da Invicta. Como me repetiram aos ouvidos durante toda a noite, "isto, só mesmo no Porto"... :-)


(Chegada da Regata de S. João, Domingo, 25 de Junho)

23 junho 2006

Harsh cynic feminist (even though true) quotes of the year

"Woman, if you wanna be worshiped and looked upon as a sacred being, move to India."

"After fucking me, he fell right asleep - like all ordinary healthy men -, and he grabed on to me like a koala bear. I'm past the age when that was a nice thing."

"If your kisses can't hold him, your tears won't bring him back. And if he makes you cry, just throw him off; believe me, there are plenty more that can make you cry out there."

(Georgette Dee, in Berlin im Licht, 15 de Junho, no Teatro Carlos Alberto)

Cascata na escarpa

As Fontaínhas são o coração do santo padroeiro da cidade do Porto. Não passam de duas ruas que se tocam, perpendicularmente, sobranceiras ao Douro, lá bem empoleiradas juntinho à desaparecida muralha. Durante quase todo o mês de Junho, restaurantes improvisados, diversões de feira e vendedores ambulantes alinham-se nas Fontaínhas para diversão e entretenimento dos milhares de populares que não dispensam a bela da sardinha ao ar livre e umas quantas farturas a escorrer óleo à sobremesa.

Antes que a multidão invada o espaço, a minha família mais próxima tem por tradição organizar uma jantarada nas Fontaínhas. Oito pessoas, três dúzias de sardinhas e algum entrecosto, seis garrafas de vinho, pimento assado, batata cozida e caldo verde com pouco "entulho", como dizem os antigos. Uma mesa bem disposta, parvoíces que rolam sem parar, inícios de debates políticos que descambam na anedota, sintonias que só são possíveis entre gente que se conhece desde que nasceu. Um "ponha, ponha, ponha" rido estupidamente alto que faz as mesas circundantes juntarem-se à gargalhada. Uma dúvida piscícola que termina, duas horas depois, com um "corvina!" a despropósito. O tradicional copo de vinho que alguém entorna (comprovando a lei de Murphy; tinto em toalha branca). Duas séries de partidas de matrecos em que até o avô entra, no seu look desportivo de casaco sem gravata e camisa de colarinho desapertado.

Ao subir a rua de regresso aos carros percebemos porque são as Fontaínhas um dos nossos palcos de reuniões familiares. Na estrada reúne-se um grupo de moradores que monta uma cascata sanjoanina, em pleno passeio, encostada à fachada branca de uma casa. O rapaz que segura as figuras de barro nas mãos, volta-se para trás e pergunta "ó dona Arminda, não é a senhora que tem daquela espuma das flores lá em casa?" "Não, é a minha filha, mas espera que já lhe peço." Gira nas pernas roliças e berra na direcção de uma janela aberta no segundo andar da casa fronteira: "ó Manela! Anda cá ajudar na cascata e traz espuma para segurar as palmas!". Minutos depois, a dita Manela atravessa a rua, com chinelos nos pés, uma criança ao colo e outra pela mão. O mais crescido, depois de entregar um bloco de esponja verde ao rapaz que continua ajoelhado a compôr o santo, a banda e os animais, olha para mim do alto dos seus 60 centímetros e atira-me um "tu não moras aqui". "Eu? Pois não, estou só a ver a vossa cascata que vai ficar bem bonita." O rapazito apanha do chão uma flor, estende-ma e diz "como não és de cá, não podes pôr um boneco, mas eu deixo-te pôr esta flor. Assim no São João, quando passares por cá, podes dizer aos teus amigos que a cascata também é tua."

A margarida amarela lá ficou. :-)

"...dá cá um balão..."

21 junho 2006

IT handicaped...

... until next week, probably.

Meus amigos, amores e desconhecidos, andarei net free até meados da próxima semana. Isso inclui mails, messenger e, infelizmente, blogue. Tentarei dar uma saltada a esta minha casa e manter-me próxima das vossas, mas não garanto muito... :-)

Se precisarem de mim, já sabem... TMN! :-)

Luv!

S. João

Tem que ser no Porto. :-)

Já tenho duas levas de visitantes garantidos para a próxima sexta-feira, para sentirem no figado e na cabeça ;-) o que é o verdadeiro S. João.


Mais alguém se junta?

(Alojamento já não está fácil, mas tudo o resto está assegurado.)

Darwin me acuda!

A minha mãe descobriu a Martha Stewart:

"M., quanto é um quarto de manteiga?"
"Olha lá, uma chávena deles é do tamanho de quê?"
"Achas que no AKi arranjo cola em spray com cor, M.?"

Oh Lord!...


20 junho 2006

The Pleasure Song

I got so much love
So much more
So much more love to give.
I got so much more
So much love
So much more love left to give.

So much pleasure draws me like I never saw.
I have never seen you look like this before.


I got so many lives
So many more
So many more lives to live
I got so much love
So much love
So much more love left to give.

So much pleasure draws me like I never saw.
I have never seen you look like this before.

Are you with me or without me ?
Are you with me here or am I alone ?

I got somewhere
Somewhere to be
Somewhere to be with you.
There is somewhere
Somewhere to be
Somewhere for me and you.

So much pleasure draws me like I never saw.
I have never seen you look like this before.

Are you with me or without me ?
Are you with me now or am I alone ?
Can you see me I can see you —
Please be with me here so I'm not alone.

So much more to know
Didn't want to go
So much more to know
Didn't want to go
So much more to go
Didn't want to go
So much more to know
Didn't want to go

So much more to know
So much more to go
So much more to know



By Marianne Faithful.

From the pilot episode 1 of "The L Word" show, now finally on broadcast!

19 junho 2006

Ora aí está uma boa importação

A frase mais inteligente que me disseram este ano

"Por isso é que tu precisas de terapia e eu não. :-)"

(Obrigada, F. Pela noite. Pela dança.)

18 junho 2006

Jovem!

Se tens menos de 35 anos, és licenciado e queres ajudar o teu país, inscreve-te nas forças armadas do engenheiro Sócrates... ;-)

Estão abertas as inscrições para o programa INOV Jovem 2006. Recomendo a iniciativa, pelo menos a que decorreu entre 1997 e o ano passado e que dava pelo nome de Programa Contacto@ICEP. Pelos INOVs, confesso, já não ponho a mão no fogo. :-S

De qualquer forma, se procuram uma primeira experiência de trabalho internacional, esta poderá ser uma boa aposta. Para dicas, sugestões e dúvidas o email está, como sempre, no perfil.

Dogma pessoal III

A pele é o mais imprevisível dos órgãos.


15 junho 2006

Tuguices

Portugal enerva-me. :-)

Gosto muito de sair à noite. Gosto dos jantares, dos copos, das boas conversas em bares, de encontrar gente conhecida pelo caminho, de dançar e de travar novos conhecimentos. De tudo o que normalmente se associa à "noite", até do que é mais estranho para os tuguinhas. Mas sair à noite cá na Nação é um problema.

Antes de mais, parece que depois das três da matina toda a gente com idade para ter interesse recolhe a uma caverna obscura qualquer, inacessível sem mapa desenhado a tinta simpática nas costas de um qualquer talão de desconto da Galp. Mesmo nos sítios onde sempre me habituei a ver pessoas (para quem costuma noctivagar por estas bandas - Indústria, Via Rápida, Estado Novo, Swing, Twins-pré-strip-club e afins), não se encontram mais do que miúdos com penteados à Moranguitos e boxers à vista. Acreditem ou não, até no Bela Cruz dos nossos dias já se vê gente feia.

Se passarmos para os ditos clubs da moda (Chic, Vogue, e demais) a coisa agrava-se. Casas estupidamente cheias - a Vogue de hoje não tinha, sequer, oxigénio suficiente para metade dos presentes -, repletas de miudagem e de seres humanos pouco atraentes. Há as opções de sempre. Maus Hábitos, Passos Manuel, Café Lusitano, Labiryntho, Triplex, Trinta e Um. Mas para quem quer acabar a noite ao som de boa dance music a coisa não fica fácil. Ou se faz o circuito dos DJs ou esqueçam lá isso.

Depois há a questão do provincianismo tuga. Ou do puritanismo português. Ou da falta de hábito social. Ou da tradição judaico-cristã arreigada. Chamem-lhe o que quiserem. Por cá não se dá trela, ponto. Falar com estranhos é sinal de putice eminente. Passa-se a noite em círculo com quem já se conhece e tenta-se sempre encontrar um hipotético par para a noite lá para as bandas do primo do colega de trabalho da concunhada da melhor amiga. Não tenho feitio. Nem paciência, nem idade, nem experiência, para me conformar com costumes sociais que deixaram de fazer sentido. Passa um loiro de olho azul e estrutura facial bem montada e eu olho, nos olhos. Se me devolvem o olhar e, na volta do bar, o dito me diz "Hi!", eu respondo "Hi! Enjoying yourself?". Dê lá o que der, a noite fica sempre melhor por causa disso. E, decididamente - original company not excluded -, o melhor da noite de hoje foi o Thomas from Denmark. E a sangria do Parke, claro! ;-)

Já disse, Portugal enerva-me.

14 junho 2006

2003: In loving memory...


There is nothing wrong with America that cannot be cured by what is right with America. (Bill Clinton)


Atlanta







Savannah

April 19


Myrtle Beach

May 11


NYC


Memorial Day


Washington DC


4th of July


Vegas and Grand Canyon


Labor Day


Chicago


Columbus Day

Fresh starts

Vinte e quatro horas. Daqui a 24 horas tem início o tal resto da tua vida que canta o outro. Ancorada num passado recente e tempestuoso, cheio de vagas dissonantes, começa a nova e tão ansiada etapa. Amanhã regressas à cidade que viu nascer a nossa amizade, a uma vida que nos é comum. Segues o teu destino com a coragem que te é natural e com a claridade de pensamento que tanto te caracteriza. Cumpres a vida que a sorte te ditou com a fé que apenas têm aqueles que encontram o verdadeiro amor.

Contigo, no entanto, parte uma fatia da minha vida que não pertence a ninguém mais, que ninguém mais poderá algum dia compreender. A distância expande-se, fica um pouco mais intransponível. O lar espiritual da minha saudade gringa deixa de estar a 300 quilómetros, para ficar a 4.000 milhas. Vou sentir a tua falta. Vais-me fazer falta. Mas sei que nunca iremos perder a cidade que, através da amizade, juntas conquistámos.

They say parting is a sweet sorrow. They lie.

À L., na despedida. Love you. From here to the moon, and back! ;-) See you soon, really soon.


13 junho 2006

Dizer não

Fighters e bleeders. Givers e takers. Sem barreiras estanques, assim se divide o mundo.

Há, por essas ruas perdidas, pessoas especiais. Seres em quem brilha a chama da transcendentalidade. Pessoas que atingem um nível de percepção que não toca todas as vidas, que deixam transparecer nas palavras, nos gestos, nos olhos uma centelha quase divina. Homens e mulheres que vivem como sabem, capazes da felicidade mais absoluta e do desespero mais totalitário.


Estas pessoas têm o destino de se cruzarem com outras que não partilham o seu desaforo pela vida. Que se deslumbram, que se encantam e que acabam por falhar. Por exigir sabendo que são incapazes de dar. Almas negras que sugam a luz interior daqueles que se habituaram a considerar como seus por direito.

E por puro e desenfreado que seja o sentimento daqueles que carregam todo o mundo consigo, há apenas uma forma de preservar esse divino com que nasceram. Dizer não. Amputar o parasita apodrecido que segue sugando energia vital, celebrar o período de nojo e regressar ao core de quem são, mais fortes, mais puros, mais serenos. Porque, nessas ruas por onde nos perdemos, é apenas nestas pessoas que reside a nossa esperança de salvação. Precisamos delas inteiras, eternamente crentes. Precisamos que sejam capazes de cumprir o seu dom.

À C. Com toda a coragem e o desejo de um regresso mais decidido.


Quem cá vem

Disseram-me no outro dia que o Blue Notes é ponto de paragem obrigatório na leitura quotidiana de início de jornada, que as palavras que aqui deixo acompanham as vidas de pessoas que se reveêm nos sentimentos que desenho em palavras. Que consigo escrever algo que muitos sentem e que esse é um dom que tenho o dever de respeitar.

Habituei-me a respeitar o outro para além do exigido por ter acabado por descobrir que nada de nosso tem existência neste mundo sem o espelho que são os demais. A minha crença inalienável no ser humano sempre me fez acreditar na projecção real do que de melhor carregamos no mais fundo de quem somos.

A todos os que aqui lêm algo de seu, o meu eterno bem-haja pelo espaço que me guardam nas suas vidas. Se esse dom de que falavas, C., realmente existe, existe apenas porque nunca serei capaz de deixar de amar. E se esse livro que me exigias acabar por me cruzar a vida ele será, também, um pouco teu.

Afectos

Dizem os sábios que o melhor da vida são as pessoas. O melhor da minha vida têm sem dúvida sido aqueles com quem me cruzo e que têm trazido à minha vida a alegria de poder sorrir e ver sorrir. As pessoas que deixo que me toquem, as pessoas que quero abraçar em gestos e em palavras, as pessoas que me levam aos pequenos-almoços lá bem perto do Castelo de S. Jorge. :-) As pessoas que sabem e que sentem, as pessoas que quero trazer para a minha vida.

Obrigada, Nuno, pela partilha das sintonias. :-) Este fim-de-semana, Lisboa ganhou mais um ponto na minha consideração... ;-)


Luz

No Verão o sol entranha-se na pedra de Lisboa e cega. Ilumina, abre espaços e escorre pelas fachadas fazendo sorrir e sonhar. E o Tejo, já ali ao fundo...

Black (Women) Power


Um espectáculo fabuloso. Simplesmente arrepiante.

Com Ray Charles a dar o mote, Linda Hopkins, Maxine Weldon e Mortonette Jenkins subiram ao palco do Casino de Lisboa acompanhadas por um sax, um sax tenor, trompete, bateria, baixo, guitarra e piano. Com um leve toque de rock salta para o palco a primeira música, What'd I Say. Linda Hopkins, de bengala e do alto dos seus 81 anos, prova que quem nasce para o palco há-de morrer em cena.

As vozes, negras, preenchem um Auditório dos Oceanos onde a acústica supera largamente o cuidado estético. Cerca de 600 pessoas vão abanando a cabeça e tapeando os calcanhares ao som do ritmo de Hallelujah I Love Him So, mas o primeiro grito que se houve na sala é o nosso. O público, típico de casino, desfruta mas não vibra. Nós sim.

Quando chega o tão ansiado Georgia on My Mind, Linda Hopkins preenche o palco, sozinha com a sua banda e, sentada, mostra-nos como se nasce mulher, sulista, negra. O peito contrai-se e nasce uma lágrima gorda de saudade, que rola pela face, comovida, enquanto canto, com a voz tremente de emoção Georgia, Georgia, no peace I find, Just an old sweet song keeps Georgia on my mind. Mas o espectáculo segue e quando chega a altura do Jack se fazer à estrada já não são só as nossas vozes que se ouvem pela sala.

O equilíbrio perfeito da alma que povoa as vozes negras com a estética de um espectáculo de blues (encenado, pese embora, para uma casa de espectáculos) culmina, inevitavelmente, com Linda, a solo, de branco integral, cantando the Lord has promised good to me, His word my hope secures, He will my shield and portion be, as long as life endures...

É apenas no fim do concerto que a sala anima, os corpos se levantam e dançam, as mãos seguem o ritmo descompassado da música e as vozes acompanham o When The Saints Go Marching In desse outro grande senhor do Blues e o Oh Happy Day!

Uma noite memorável, que, próximo da partida, fez reviver o grande amor que nos une. Obrigada, L., pelos anos que deram sentido a este Wild Women Blues.

Nos va por la sangre

Julieta del Carmen. É o nome da nova manicure do cabeleireiro lá da rua. É venezuelana e veio parar a Portugal há 18 meses, atrás da filha, casada com um português. Ainda não conseguiu visto para trabalhar porque caiu na asneira de dizer, quando entrou, que vinha para viver com a filha e ajudar com os netos.

Sente falta da Venezuela, da costa tropical e da família que deixou para trás. Fala com bom humor da oportunidade perdida de ir trabalhar para a Isla Margarita, receber em dólares. Em Portugal a coisa está má. O genro, motorista de transitários, não recebe há meses. Tem pelo menos três patrões a deverem-lhe uns 5.000 euros. O que a filha ganha não chega para os empréstimos da casa e do carro e para a educação dos três netos. Diz que não sabe se vai regressar a casa. Fala-me de um enamorado que lá deixou e que precisa, ano e meio depois, de saber se vale a pena esperar pela sua Julieta.

Sorri e conta dos portugueses que vivem lá no pueblo. Têm padarias, bombas de gasolina, supermercados e no dia de Fátima fazem uma festa gigantesca para a qual convidam toda a comunidade, uma festa onde se come e se bebe o que se quiser.

Diz que não sabe o que pensar do Chavez. Até percebe o que o seu presidente vai dizendo, mas o facto é que se vive cada vez pior. Nada como há uns cinco anos atrás. Pergunta-me o que penso do Bush, aquele que Chavez lhe diz que é um bêbado que está a arruinar a América Latina. Sentem-se os efeitos da propaganda, mas o fascínio pelos EUA está lá, como em todas as ambições sul-americanas. Conta-me estórias da filha da cônsul da Costa Rica em Caracas que foi para lá estudar e decidiu deixar a faculdade por um emprego como motorista a ganhar mil dólares por semana.

E lembra-se dos 15 anos que passou a conduzir autocarros escolares, das crianças que conheceu e daquela, em especial, que lhe telefonou esta semana para a convidar para a sua cerimónia de graduação. Não vai poder ir. Não há dinheiro e o trabalho no cabeleireiro, nesta altura, é muito, não dá para faltar. Talvez em Janeiro, sonha. Mas aí já não a vai ver.

Admite a melancolia de exilada e diz que às vezes se sente agobiada pela distância intransponível do Atlântico que não a deixa pega num carro e simplesmente ver aqueles que ama. Cantarola a música venezuelana que o patrão acabou de pôr na instalação sonora e conta-me como os portugueses são calmos e não dançam. Às vezes até parecem tristes, mas também não admira, têm uma vida tão difícil.

Acompanha-me à porta e diz-me para voltar, que gostou de falar comigo e que tenho que lhe contar mais coisas porque, desta vez, foi só ela que falou. Já vou a sair quando me pergunta se conheço mais venezuelanos por estas bandas. Digo-lhe a verdade, só conheço alguns mexicanos e colombianos. Pero para bailar es suficiente, sorri. É verdade, Julieta. Para dançar basta não ser triste.

07 junho 2006

Boa música

É esse o plano para este fim-de-semana. :-) Um espectáculo que promete, numa casa que entusiasma, com uma verdadeira senhora do blues... E na única companhia que realmente sabe o que significa ter "Georgia on my mind"... :-)

Act on what you believe...

Ao sabor de um bom vinho velho, numa casa confortável e com um cenário magnífico, discutia-se hoje que algumas pessoas perseguem algo que talvez não exista.

A certeza fica, porém, doutro lado: essas mesmas pessoas nunca conseguiriam sobreviver com a consciência dessa ausência de centelha transcendental. E se isso significa que serão, em certa dimensão, eternas crianças... So be it! :-)


Meritocracia

Há pessoas que, simplesmente, merecem ser felizes.

Parabéns, L.

Chega o calor...

... e desata tudo a falar de sexo.

O meu terapeuta tinha uma explicação para isto. Muito freudiana e que assentava na teoria das proporções... ;-)



06 junho 2006

É (também) oficial

A época parva (aka silly season) chegou ao Blue Notes. Não durará, mas, nos entretantos, bear with me, will'ya? É uma da manhã e estão 26 graus lá fora... :-D

"És um bocado Monk, não és?"

"Antes Monk que monga."

Mas, salvaguardando a paranóia da lavagem das mãos, até sou. Alinho os livros pelo canto inferior direito, a minha escova de dentes fica sempre virada para o mesmo lado e a roupa está no armário por tipo, cor e tamanho. Felizmente acho piada a que me troquem as voltas, por isso é sou só um bocado Monk... :-P

Para quem não conhece... meet the Monk!

Jantar de convívio

As duas casadas falam da dieta que têm que cumprir. As duas solteiras comem e encolhem os ombros. Vejo um padrão? ;-)

(Em abono da verdade se diga que as duas solteiras nem que quisessem engordar não conseguem. Em abono da verdade se diga também que ambas as solteiras não batem lá muito bem da cabeça: foram elas que bateram palmas quando o empregado de olhaço azul quase deixava cair uma pilha de vinte pratos e foram também elas que quase deixaram a mesa para seguir os dois trintões que acabaram de jantar antes delas... ;-) )

Obrigada, J., pelo convite e pela companhia. Já sabes, o próximo começa com appletiny e só acaba na [alfacinhas dum catano...;-)] Lux.


5 de Junho de 2006

Primeiro banho de mar do ano. E que bom que foi!

04 junho 2006

Em ti renasço

Na força desse coração que bate à distância de duas peles encontro um ritmo corajoso há muito perdido. Do ser que brota nas tuas palavras bebo os sorrisos brancos com que te ris das minhas dúvidas. Na limpidez desses olhos cor de mar percebo uma verdade óbvia que nunca me conseguiram explicar e em ti reencontro a doçura das pétalas de uma tulipa perfeita, revivo a cócega tonta do carinho côncavo contido na palma da tua mão estendida, dessa mão forte e imensa onde despejas um pacote de açucar e me dizes "conta". No silêncio das pálpebras fechadas sinto os teus braços à distância exacta da minha queda e no grito do corpo poderoso que se abate em paroxismo sobre o meu descubro o novo cheiro da crença.

Prémio "mereço entrar num reality-show da TVI" do ano

Enquanto os cafés arrefeciam nas chávenas pousadas numa mesa de shopping à espera da hora do filme, eis que ouvimos uma voz um pouco mais alta do que o habitual na mesa do lado. As cabeças voltam-se, discretamente, e vemos um casal; ele, bem apessoado, com aquele look ursinho-de-peluche-nunca-fiz-merda-na-vida, enfiado numa camisa da Lion of Porsches e os seus 28, 29 anos; ela, morena, apetecível ao primeiro olhar e dispensável ao segundo (seja lá isso o que for, foi o que me disseram), unha do pé vermelhusca, penteado de cabeleireiro do dia anterior, t-shirt da H&M e os seus 30, 31 anos.

Ela fala, ele não. Ela enclina-se na direcção dele, gesticula com as mãos e pontua cada final de frase com um movimento seco da cabeça na direcção dele; ele roda os polegares das mãos que tem pousadas sobre a mesa, bate o calcanhar esquerdo contra o chão e mira, ora o cinzeiro, ora os meus olhos (que eu estou logo em frente e sou descarada à brava).

A sujeita barafusta à força toda "porque num dia sou tua namorada, no outro não, nunca sei com o que conto, mudas de opinião e desapareces e depois voltas à espera que me apeteça estar contigo outra vez, nunca assumiste nada e tem dias que parece que tens vergonha de mim, não sabes o que queres e enganas toda a gente, sabes lá o que eu trabalhei para cuidar do teu filho e para te ajudar e tu não me dás valor nenhum, e a minha mãe!, a minha mãe que te adora e que não percebe quando deixas de aparecer lá em casa, isto assim não pode continuar, ou é ou não é, se não for pegas nas malas e voltas para casa da mamã que eu não sou tua empregada para andar a dias..."

E fiquei por aqui porque me chamaram a atenção para o facto de estar descaradamente a ouvir a vida privada de dois seres humanos e me arrastaram para o cinema. Se bem que eu acho que quem decide discutir as suas angústias matrimoniais num shopping à meia-noite de um Sábado até deve apreciar a audiência. :-P Fiquei sem ouvir a segunda parte da história, mas pela expressão na cara do miúdo a única coisa que o preocupava era que passasse alguém que o reconhecesse... Qual Fiel ou Infiel, qual quê! ;-)

What're the odds?

De ir passar uma tarde de Domingo com um amigo a Vila do Conde e, a caminho do Bom Doce para o obrigatório cházinho das cinco, por levar o vidro aberto e o leitor de CD a passar (um bocadito alto, admito) Carlos Vives, um carro se cruzar à minha frente na estrada - qual NYPD Blues - e sair de lá um cavalheiro que quase enfia a cabeça pela minha janela enquanto dispara "No puedo creer que me encuentro una colombiana en esta tierra de locos?!".

Digam-me lá quais são as probabilidades de, num acaso totalmente furtuito, me cruzar com um rolo que estudou no mesmíssimo colégio que quase todos os colombianos que conheço??? Melhor, quais serão as hipóteses de voltar a comer arepa, bandeja paisa e sancocho, caseirinhos, e acompanhados de colombiana e aguardiente, a apenas 25km de casa??


Tem dias que a minha vida é muito boa, precisamente por poder dar um filme mesmo muito mau! :-D


The Last Stand


O último filme de uma trilogia nunca desperta muita atenção. X Men 3 é o desfecho esperado de uma história bem passada para o cinema, apelativa e simpática. Regressos esperados, mortes previstas e um final amável... :-) A cena da Golden Gate é um bocadito exagerada, pareceu-me, mas os apontamentos de humor estão lá. Continuo a achar o X Men 2 o melhor dos três e... a preferir, de longe, esta versão:

03 junho 2006

Aussie!

Qual Daniel Craig, qual quê!... Digam lá que não vêem este australiano a dizer "Bond. James Bond."?




Gostei de ver

No final do Luxemburgo vs Portugal os stewards (cavalheiros com a mesma largura de ombros do meu monitor do ginásio) correram para o centro do campo e acompanharam todos os jogadores que foram às bancadas atirar camisolas ao público. Chama-se profissionalismo. Coisa que faz muita falta ao nosso futebol.

Já agora, Portugal está em nono lugar na lista de favoritos nas apostas da Betandwin, atrás de, por ordem, Brasil, Alemanha, Inglaterra, Itália, Argentina, França, Espanha e Holanda. Eu continuo a achar que não passamos da fase de grupos. Mas isso sou só eu. :-)

01 junho 2006

É oficial

Leis da vida

Lei # 2 - O tempo que levamos a decidir que "não" é inversamente proporcional ao que demora mostrarem-nos que afinal "sim".


Nunca pensei.
Obrigada.

Inutilidade enciclopédica do dia

Origen de la palavra "Google"

Los creadores del popular sitio de búsqueda de la internet fueron a buscar un nombre para su creación en la historia reciente de la Matemática y lo hallaron en la palabra googol que fue creada en 1930 para designar un número formado por un 1 seguido de cien ceros.

El matemático estadounidense Edward Kasner consideró que era bueno contar con un nombre para un número tan grande y le pidió a su sobrino de nueve años que lo inventara, prometiéndole que mucha gente lo usaría. El niño propuso googol, que desde enconces fue ampliamente usado por los matemáticos en todas las lenguas. Kasner contó posteriormente que su sobrino le propuso después un nombre para un número inimaginablemente más grande: un 1 seguido de un googol de ceros, que se llamaría googleplex.

La empresa Google confirma que su nombre se inspira en la palabra inventada hace casi ocho décadas y precisa que el término «refleja la misión de la compañía de organizar la inmensa cantidad de información disponible en la web y en el mundo».

Brought to you by La palabra del día.


Sugestão de fim-de-semana

Concerto * Jazz Combo com Nicola Conte
Domingo, 4 de Junho, 19H30
espaço Arena Lounge, Casino de Lisboa
Entrada Livre

No interior do recém-inaugurado Casino de Lisboa, o Arena Lounge convida-nos a assistir às "outras direcções" do jazz poético e cinematográfico de Nicola Conte, que se apresenta em concerto no dia 4 de Junho (domingo), neste novo espaço situado no Parque das Nações.

Entender o caminho de Nicola Conte é quase como regressar ao final dos anos 50, não só porque é uma das suas épocas musicais favoritas mas também porque foi uma altura em que o jazz começou a ser abordado de uma forma diferente.

A descoberta de músicos hoje consagrados, os primeiros discos de fora a serem ouvidos... Uma ambiência muito semelhante à atmosfera que mais tarde se reviveria em Bari à volta do colectivo Fez, uma fonte de ideias em torno da qual giravam músicos, produtores e dj's numa plataforma de intercâmbio cultural.

É aqui que nascem as primeiras produções de Nicola Conte, dando notoriedade, no meio do movimento acid jazz , a bandas como Paolo Achenza Trio, Quintetto X e Fez Combo. Tudo isto demonstra a versatilidade e inteligência de Nicola Conte ao contagiar de forma equilibrada as suas produções com a sua paixão de sempre, as atmosferas densas do Jazz . É assim que aparece o primeiro álbum em nome próprio " Jet Sounds", lançado em 2000, uma simbiose elegante de sons retro italianos com sugestões cinematográficas e influenciado pelo Jazz, a Bossa e psychadella.

Rapidamente o seu trabalho como remisturador lhe abre novas possibilidades. Através dele desenvolveu a sua pesquisa obtida a partir da manipulação de sons de instrumentos reais de modo a cumprir o seu objectivo: fazer música que tivesse o mesmo impacto que a música electrónica mas que fosse tocada acusticamente com o mesmo sentimento do jazz dos anos 60. E isto traz-nos até hoje, com Nicola Conte a ser o primeiro italiano a editar pela lendária editora Blue Note. O álbum "Other Directions" deve ser o cumprimento de um sonho que poucos julgavam possível.

Já que falamos de sonhos, porque não ouvi-lo neste dia em concerto, ao vivo e a cores? Para o Jazz Combo no Arena Lounge estarão presentes Daniele Scannapieco (Saxofone), Fabrizio Bosso (Trompete), Pietro Lussu (Piano), Pietro Ciancaglini (Contrabaixo), Lorenzo Tucci (Bateria), Nicola Conte (Guitarra) e Lisa Bassenge (Voz) para uma sessão de jazz de fusão onde poderemos ouvir temas de álbuns lançados até á data, bem como temas inéditos do novo disco.

Aproveitem para conhecer o Lounge do CdeL. Um espaço que está mesmo a pedir por boa música...