13 junho 2006

Black (Women) Power


Um espectáculo fabuloso. Simplesmente arrepiante.

Com Ray Charles a dar o mote, Linda Hopkins, Maxine Weldon e Mortonette Jenkins subiram ao palco do Casino de Lisboa acompanhadas por um sax, um sax tenor, trompete, bateria, baixo, guitarra e piano. Com um leve toque de rock salta para o palco a primeira música, What'd I Say. Linda Hopkins, de bengala e do alto dos seus 81 anos, prova que quem nasce para o palco há-de morrer em cena.

As vozes, negras, preenchem um Auditório dos Oceanos onde a acústica supera largamente o cuidado estético. Cerca de 600 pessoas vão abanando a cabeça e tapeando os calcanhares ao som do ritmo de Hallelujah I Love Him So, mas o primeiro grito que se houve na sala é o nosso. O público, típico de casino, desfruta mas não vibra. Nós sim.

Quando chega o tão ansiado Georgia on My Mind, Linda Hopkins preenche o palco, sozinha com a sua banda e, sentada, mostra-nos como se nasce mulher, sulista, negra. O peito contrai-se e nasce uma lágrima gorda de saudade, que rola pela face, comovida, enquanto canto, com a voz tremente de emoção Georgia, Georgia, no peace I find, Just an old sweet song keeps Georgia on my mind. Mas o espectáculo segue e quando chega a altura do Jack se fazer à estrada já não são só as nossas vozes que se ouvem pela sala.

O equilíbrio perfeito da alma que povoa as vozes negras com a estética de um espectáculo de blues (encenado, pese embora, para uma casa de espectáculos) culmina, inevitavelmente, com Linda, a solo, de branco integral, cantando the Lord has promised good to me, His word my hope secures, He will my shield and portion be, as long as life endures...

É apenas no fim do concerto que a sala anima, os corpos se levantam e dançam, as mãos seguem o ritmo descompassado da música e as vozes acompanham o When The Saints Go Marching In desse outro grande senhor do Blues e o Oh Happy Day!

Uma noite memorável, que, próximo da partida, fez reviver o grande amor que nos une. Obrigada, L., pelos anos que deram sentido a este Wild Women Blues.

2 Somethin' Else:

Anonymous Anónimo escreveu...

A great show, indeed!! Nada faria mais sentido do que ir ouvir Ray Charles, noites antes da vinda para a terra desse grande senhor! Mais ainda, nada faria mais sentido do que ir contigo!!

Georgia, Georgia, the whole day through
Just an old sweet song
Keeps Georgia on my mind

Talkin' 'bout Georgia
I'm in Georgia
A song of you
Comes as sweet and clear as moonlight through the pines

Other arms reach out to me
Other eyes smile tenderly
Still in peaceful dreams I see
The road leads back to you

Georgia, sweet Georgia, no peace I find
Just an old sweet song
Keeps Georgia on my mind

Other arms reach out to me
Other eyes smile tenderly
Still in peaceful dreams I see
The road leads back
It always leads back to you

junho 23, 2006 9:22 da tarde  
Blogger M. escreveu...

Foi um daqueles momentos que por uma coincidência no tempo e no espaço criam memórias para toda uma vida...

Sabes, esta música dá-me vontade de voar até Birmingham e depois entrar na Georgia ao volante, para poder rever as imagens que ficaram na minha mente. As paisagens a perder de vista, as nuvens que caem no horizonte, os trailler parks, os IHOPs na berma da estrada, os SUVs carregados stickers... :-D

Saudades, Darwin, saudades!! :-)

julho 02, 2006 8:00 da tarde  

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