03 fevereiro 2006

Os limites do respeito

Quatro jornais europeus - o francês France-Soir, o italiano La Stampa, o alemão Die Welt e o espanhol El Periodico - reproduziram na passada quarta-feira, dia 1 de Fevereiro, uma série de caricaturas que associam o profeta Maomé ao terrorismo. Os desenhos já haviam sido publicados pelo diário dinamarquês Jyllands-Posten e causaram revolta entre os muçulmanos, provocando um conflito diplomático entre a Dinamarca e o mundo islâmico e um boicote a produtos dinamarqueses no Médio Oriente, uma vez que a tradição islâmica proíbe a divulgação de desenhos ou imagens do profeta.

A liberdade de expressão é uma conquista da sociedade moderna que me é particularmente grata e que permite pôr uma bomba na cabeça de Maomé, como já autorizou um preservatido no nariz de João Paulo II.


Por outro lado, a liberdade de culto é uma segunda característica do mundo actual que contribui para o meu orgulho como cidadã e que prevê o respeito pela opção do indivíduo em seguir os dogmas de qualquer religião. (O problema começa, em efeito, no facto de termos passado a conotar o islamismo com o terrorismo, mas isso fica para outro post.)

Afinal, onde começa o nariz islâmico??

(Tinha pensado ilustrar o post com a dita caricatura, mas chega cá alguma gente através do Google e do Cedilha e do directório do Blogspot e não vá o diabo tecê-las... ;) )

3 Somethin' Else:

Blogger Nuno Guronsan escreveu...

Por muito que defenda a existência de algum tipo de religião que promova alguma espécie de bem-estar espiritual e, com isso, um código de valores e princípios que faça de um indíviduo um bom representante da raça humana (algo cada vez mais raro na nossa sociedade), também não posso deixar de defender a liberdade de exprimirmos a nossas ideias, mesmo quando as mesmas vão contra ideologias com centenas e centenas de anos. Não é por ser católico no meu âmago que alguma vez deixei de criticar a posição da Igreja em diversos assuntos, pois acho que a religião que professo deve ter em conta a evolução no tempo e não ficar estagnada na Idade Média. Se hoje os islâmicos são conotados com o terrorismo, no passado os católicos eram conotados com a Inquisição, e os hindus emparelhados com o sistema (irracional) das castas. O ser humano precisa de crescer...

Dito isto, excelente post.

fevereiro 03, 2006 6:36 da tarde  
Blogger M. escreveu...

Obrigada, obrigada. :)

Eu sou uma acérrima defensora do chamado humanismo; acredito que é ao ser humano que compete caminhar no sentido dessa bondade do indivíduo. Mas isso é apenas porque não acredito em nenhum deus.

No mundo para além das minhas convicções, acho que o dogma religioso pode e deve ser um poderoso motor que impulsiona o Homem no sentido do bem-fazer. Qualquer religião, que se paute por este princípio merece a minha admiração e o meu respeito pelos seus ditames.

Em teoria, o povo islâmico teve direito à indignação por um facto que violou o seu paradigma religioso (representação figurativa do seu deus) e imputou falaciosamente o estigma do "terrorista" a todo o Homem muçulmano.

O povo islâmico perdeu o direito a essa indignação quando usou da violência e da barbárie para protestar.

É que o estado de direito e as suas regras estabelecidas não são apanágio da sociedade cristã ocidental. São direito e obrigação de qualquer cidadão. Branco, preto, vermelho; hindu, muçulmano, cristão.

E, concordo em absoluto contigo, a conotação das religiões com os factos históricos vem de longe. :) Haja perspectiva, verdade? :)

fevereiro 07, 2006 3:10 da tarde  
Blogger Nuno Guronsan escreveu...

De total acordo com o que mencionas acerca da reacção islâmica. Até porque entretanto li umas coisas sobre haver uma inclinação para a extrema-direita do jornal dinamarquês que publicou os cartoons. O que, a ser verdade, faz com que todo o problema tenha de ser re-equacionado, pois pode ter havido intenção de incendiar a alma islâmica, o que normalmente não tem sido muito dificil...

fevereiro 07, 2006 6:25 da tarde  

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