O sol já se põe para lá das janelas dos Paços do Concelho, inspirando tonalidades douradas pelas paredes apaineladas. Atrás da secretária senta-se um homem de meia idade, franzino, de expressão franzida, que parece jogar à apanha com os polegares das duas mãos que se seguram compulsivamente em movimentos frenéticos. Está irritado e é óbvio que algo não lhe agrada.
À sua frente, na poltrona estofada a azul da direita, reclina-se um outro homem, mais jovem, que repousa um braço sobre as costas do assento enquanto apoia descontraidamente o tornozelo direito sobre o joelho esquerdo. Junto à janela da esquerda, em pé, um outro personagem masculino tem a mão apoiada no caixilho e a cabeça pendente sobre o peito, numa atitude de desistência pesarosa.
- É o melhor a fazer - afirma o jovem sentado na poltrona.
O homem que permanece de pé volta-se subitamente e, como que usando do seu último fôlego, exclama:
- Mas é um atentado!
- Qual atentado, qual quê! Atentado são aqueles palhaços! É que é já! Congelem-nos!!
Disclaimer: Qualquer semelhança entre este cenário e qualquer outra estória de guerrilha urbana pós-moderna será pura coincidência.