Ponto prévio. Todas as generalizações são aprioristicamente falaciosas.
Vem tudo de uma repetição que me habituei a ouvir dos lábios de homens com quem me cruzo: "tu és assustadora" ou (versão suave) "deve haver muitos homens que se sentem assustados contigo". E acho que nenhum até agora se referia camufladamente ao meu aspecto físico.
Desta constatação tão óbvia aos olhos dos cromossomados Y com quem ainda me dou ao trabalho de manter um diálogo, resulta uma certa conotação entre assustadora/ameaçadora. O que me vão dizendo é que uma mulher inteligente assusta a maioria dos homens. O que me continuam dizendo é que uma mulher que sabe o que quer, que conhece o seu lugar no mundo, que age em coerência com as suas convicções, que vive independentemente das regras sociais estabelecidas e que consegue manter os neurónios em movimento ao mesmo tempo que faz solário é algo com que os homens não sabem lidar.
Não me venham com tretas, eu não sou uma nova espécie de nada, sou semelhante a várias outras mulheres. Ergo, esta não é uma questão que me seja exclusiva.
Aceito e compreendo que uma mulher com estas características possa ser factor de insegurança para um homem, na mesma medida em que aceito e compreendo que um homem com estas características seja um factor de desafio para uma mulher. A única coisa que me confunde o esquema é a esquizofrenia patente entre o que certos homens afirmam desejar de alma, corpo e coração e a reacção que a corporização desse desejo despoleta.
Ou seja. Há homens que querem o the whole package, mas que recuam quando com ele se cruzam pelos caminhos deste mundo. Parece-me, no mínimo, hipócrita. Comprovadamente idiota é-o sem apelo nem agravo.
Ponto póstumo. Prove me wrong.