"Abril"
O telemóvel vibra na carteira e o sorriso desviado que me envias do lado de lá da mesa de jantar antecipa-me o que vou ler. Descontraidamente respondo-te à provocação e, como sempre, subo a parada. Detalho-te em palavras o que te vou fazer e deixo por dizer o que sabes que vou murmurar. Conheço-te as reacções; quando recolhes o telemóvel da toalha sei que no final da mensagem vais ajustar-te melhor na cadeira e engolir um copo de água sem abrir os olhos. É aí que me levanto e recolho ao cubículo destinado às mães e suas crias.
Acabo de fechar a porta sem a trancar quando a empurras novamente para dentro com um excesso de energia que me prova que não vou ter que esperar demasiado. Entre dois corpos que se conhecem há tantas noites como os nossos não há lugar a hesitações; com a mão esquerda nas minhas costas cinges-me contra ti enquanto com a direita me arrepanhas o cabelo na base da nuca para me inclinares a cabeça para trás e mergulhares a tua boca na minha. Encosto-me à parede e envolvo-te a cintura com o joelho direito, fazendo-te perceber que tive a boa educação de me livrar da roupa interior antes que chegasses.
A indiferença simulada esfuma-se e na tua respiração pesada, como nos teus gestos já sôfregos, leio a necessidade do teu querer. Mas eu tenho os meus próprios ritmos - não é à toa que me acusas de teaser - e demoro-me a abrir a fivela do cinto, tomo o meu tempo com os botões dos jeans, páro a mão sobre o tecido dos boxers, sentindo-te através do algodão durante o tempo que preciso para equiparar o meu desespero ao teu desejo. É um jogo quotidiano nosso, este toque indirecto, esta provocação em redondilha que nos obriga a evitar o óbvio até que ambos tenhamos vontade de gritar. E é um grito abafado que solto quando me ergues com o braço esquerdo e, sem espaço para equilíbrio ou movimento, me marcas as costas contra a parede ao mesmo tempo que te sinto entrar dentro de mim, abrupto, com um movimento único que me congela a respiração.
Acabo de fechar a porta sem a trancar quando a empurras novamente para dentro com um excesso de energia que me prova que não vou ter que esperar demasiado. Entre dois corpos que se conhecem há tantas noites como os nossos não há lugar a hesitações; com a mão esquerda nas minhas costas cinges-me contra ti enquanto com a direita me arrepanhas o cabelo na base da nuca para me inclinares a cabeça para trás e mergulhares a tua boca na minha. Encosto-me à parede e envolvo-te a cintura com o joelho direito, fazendo-te perceber que tive a boa educação de me livrar da roupa interior antes que chegasses.
A indiferença simulada esfuma-se e na tua respiração pesada, como nos teus gestos já sôfregos, leio a necessidade do teu querer. Mas eu tenho os meus próprios ritmos - não é à toa que me acusas de teaser - e demoro-me a abrir a fivela do cinto, tomo o meu tempo com os botões dos jeans, páro a mão sobre o tecido dos boxers, sentindo-te através do algodão durante o tempo que preciso para equiparar o meu desespero ao teu desejo. É um jogo quotidiano nosso, este toque indirecto, esta provocação em redondilha que nos obriga a evitar o óbvio até que ambos tenhamos vontade de gritar. E é um grito abafado que solto quando me ergues com o braço esquerdo e, sem espaço para equilíbrio ou movimento, me marcas as costas contra a parede ao mesmo tempo que te sinto entrar dentro de mim, abrupto, com um movimento único que me congela a respiração.
8 Somethin' Else:
Beeeemmmmm... Que dizer deste texto? Inspiradíssimo e a tresandar de pecado... O ideal para uma noite quente de Verão...
(Esta foi só para não dizeres que eu só te leio e não te comento. Espera aí... Isto não soa nada bem... ;)))
É como eu costumo dizer: "Haja braços fortes para trabalhar!"
Joke! Boa experiência escrita! (isto porque só posso falar do que vejo;-)
Bjinhos!
..e aqui tudo se reencontra..por dentro do amor..a mulher..o homem..os doze nós numa corda através do tempo...em suma, o mundo assim no céu estampado no rosto do prazer...
Nuno,
:-) Sempre pronta a inspirar a noites alheias, eu... ;-)
E tu és um daqueles homens que trago bem juntinho ao coração blogueiro precisamente por te assumires e teres a bondade de partilhar comigo e com os meus visitantes o que pensas.
APC,
Eu costumo dizer que, se eu me esforço para me manter leve e flexível, o mínimo que exijo é que se mantenham fortes e firmes. ;-)
Muito boa experiência. Escrita. :-) Sabes, este texto apareceu depois de me desafiarem dizendo que era impossível escrever um pedaço de prosa excitante sem recorrer à linguagem Miller. A continuação do capítulo (que entretanto foi abrindo portas aos outros meses do ano) aquece mais um pouco e sempre, sempre, sem uma única expressão vernácula. :-)
Beijos!
da.,
Antes de mais, bem vindo(a).
E essa é, precisamente, a minha visão do sexo nos meus escritos: "o mundo estampado no rosto do prazer", nunca o poderia verbalizar tão bem. Porque o sexo deve ser, reafirmo, um exercício de plenitude. Desenfreada, de preferência.
Volte sempre.
Onde andará esse livro...?
C:\Documents and Settings\M\Desktop\Tempos-v_rev.doc
Também tenho alguns capítulos com o mesmo intuíto... Mas coisas que aguardam o seu lugar... Num quem-sabe-um-dia-pode-ser-livro, ao qual pertencem dois posts do meu blog ("Reencontro" e "Segredo"), esses bem softs :-)
Gosto do Henry Miller do Trópico de Capricórnio (já Caranguejo não), apesar de tudo... Do extremo miserabilismo humano para onde nos remete e de algum exagero que imprime em determinadas passagens. Mas o estilo bruto, crú e desregrado da coisa é de uma originalidade corajosa; ou de um facilitismo consciente - não sei, mas que acaba por se ler como sendo único entre os demais (e que não deixa de mexer onde deve; sendo que o "onde" é aqui metafórico, só por acaso:-)
See ya!
Tenho textos que nasceram e morreram aqui no blogue. Apareceram-me mesmo só para quem aqui me lê. Mas há estórias que vão crescendo e que querem mais, que exigem um palco, que gritam dentro da minha cabeça por linhas e linhas de diálogos, gestos, cenários. É como tu dizes, coisas que aguardam o seu lugar. Tenho uma relação muito descontraída com a estória dos livros. Nunca achei que publicação fosse sinónimo de qualidade, guio-me mais pelas opiniões de outros escritores e de leitores ferozes para me julgar enquanto escrevinhadeira. E, além do mais, não tenho idade para editar livros. Não sou (infelizmente) a versão feminina do Marmelo... ;-)
Sou grande fã do Miller. (E ainda mais da Anaïs, mas isso são outros quinhentos...) Gozei [em português de Portugal e não do Brasil... ;-) LOL] mais com o Capricórnio do que, por exemplo, com a trilogia -xus. Mas o que mais me marcou foi, de longe, o Opus Pistorum. Li-o às escondidas, sem idade para o fazer e influenciou a minha sexualidade até que morra (dizia-me o terapeuta, lol!). Precisamente por esse estilo cruelmente óbvio que tão bem retratas. Um ídolo, um ídolo!
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