18 maio 2006

Para lá de mau

O livro já não era grande espiga. Tinha o mérito de ser de leitura intuitiva e de romancear uma, até à data, pouco-batida teoria da conspiração. O filme, por sua vez, consegue arruinar, até, todo o apelo que a ideia da linhagem de Cristo e de Maria Madalena pode ter.

Lembro-me de dizer a muita gente que "O Código DaVinci" era um livro escrito para facilitar o guião. A linguagem, a estrutura narrativa, a imagética, tudo parecia fazer da adaptação um tiro fácil e certeiro. Pois resulta que acabei por acertar no meu próprio pé. O Ron Howard conseguiu a proeza de transformar um hit mundial num verdadeiro flop.


As interpretações são miseráveis. Vêem a imagem? Pois o Hanks passa todo o filme com o labiozito assim franzido e a Tautou, essa... Alguém lhe pague um curso na Royal Academy ou no Actor's Studio, porque a expressão de Madalena frágil e arrependida que não mexe um músculo durante o filme todo, sempre de boquinha semi-aberta e olhos arregalados, arruina a decidida, forte e confiante Sophie Neveu que Dan Brown criou no papel. Até o Ian McKellen fica aquém do que é capaz. A única personagem alcança alguma profundidade dramática é a de Silas, o lacaio da Opus Dei, a quem o não-albino Paul Bettany [Charles do "A Beautiful Mind"] consegue ainda assim emprestar certa coerência.

A estória por trás d'"O Código DaVinci" é muito boa. Está muito bem arquitectada. Como nos outros três romances que Brown já tem traduzidos para português, existe uma rede lógica que parte de factos reais para construir uma teoria que podia muito bem ser verdadeira. No filme, a estória é reduzida a uma mera sequência de revelações.

"O Código DaVinci", the movie, não tem um único momento de emoção. Hanks e Tautou têm tanta química juntos como dois blocos de gelo na arcada da porta de um iglu no Ártico. Os Illuminati nem aparecem, muito menos os Evangelhos Gnósticos. Deviam ser indiferentes à construção da estrutura narrativa do filme. O que até tem lógica porque a dita é inexitente. Vaticano, Opus Dei, Priorado de Sião? Mas quais são os temores à volta da possibilidade do filme criar ideias erradas sobre estas instituições religiosas? A única imagem que fica é a de que os homens da Opus ainda usam o cilício e praticam a auto-flagelação.

A única dúvida que me fica é saber se o filme vai parecer melhor ou mais surpreendente a quem não tenha lido o livro. Ou se vai deslumbrar alguma alminha que tenha andado exilada na Amazónia central desde 2003 e que ainda não saiba tudo o que há para saber sobre o Homem de Vitrúvio, o Sagrado Feminino ou a sequência de Fibonacci...

12 Somethin' Else:

Blogger A escreveu...

Li e ainda não vi. Livro e filme respectivamente.
Não tenho grande curiosidade; a minha onda anda cadavez mais sórdida e undrground no que concerne a filmes.
Não gosto do Tom, nunca gostei.
Acho que vou ver só pra falar mal :P
Depois da tua descrição fiquei com a sensação de que vou perdir 1000 paus (ou 5 euros, para parecer menor o pecado)

Beijos

maio 18, 2006 9:55 da tarde  
Blogger a miúda escreveu...

Faço minhas as palavras da a. (Será que posso?!)
Acho que vou ver se por acaso consigo apanhar bilhetes de borla na RUC!!! :)
Mas eu até gostava da Audrey Tatou, embora só a tenha visto no papel de Amélie e de emigrante turca no "Dirty Pretty Things"...
mas de facto se não há química (ao lado do Tom Hanks, é de facto difícil) não há nada a fazer!
Quanto ao livro de facto nunca tinha pensado nisso mas acho que tens toda a razão quando dizes que seria fácil adaptá-lo ao cinema e acho que é exactamente por isso que achei perfeitamente idiota terem escolhido o Hanks para o papel, de facto esperava/imaginei um tipo completamente diferente.
A Tatou acho que era mais ou menos óbvia.

Adorei esta tua tirada:
"Hanks e Tautou têm tanta química juntos como dois blocos de gelo na arcada da porta de um iglu no Ártico.", hilariante.
:))

maio 18, 2006 11:06 da tarde  
Blogger M. escreveu...

a,

Se puderes ir de borla ou em dia de desconto, siga. Caso contrário só se for mesmo para poder dizer mal. :-) E concordo, o Hanks é uma nódoa.


nunf,

Eu confesso que estava à espera de outros protagonistas. Para o Langdon estava a contar com um Ralph Fiennes e para a Sophie com uma nova Juliette Binoche. Foi mais ou menos isso que tinha visualizado na minha cabecinha crente.

E concordo, o termo "química" aplicado ao Tom Hanks fica-se pelas reacções do perfume com o after-shave. Yuck!

maio 19, 2006 3:03 da manhã  
Blogger Lisa escreveu...

E pronto, confirma-se. Mesmo assim vou conferir pessoalmente, já que tenho o king kard é aproveitar.

A Tatou confirma a regra de que, sob uma boa direcção, todos podem brilhar. O Jeunet tem mão de ferro, e é um doido que só visto... se não acreditas vê os extras do Amélie e logo vês.

O Tom, pois. Coiso. O Fiennes, ai, ai, ai. Já estou a salivar. Era bom, era.

Bom, é pena, que aquilo até dava um bom filme de acção e mistério.

maio 19, 2006 10:05 da manhã  
Anonymous Anónimo escreveu...

eu li e não gostei. irei ver e não sei. o "nosso" codex 636 é bem melhor (apesar de pertencer igualmente à categoria de "mau") que o código Da Vinci. São livros de massas, que dão aos imberbes de pensamento "fantásticas" descobertas e coisas em que pensarem durante uns tempos. enfim, haja paciência.

maio 19, 2006 10:38 da manhã  
Blogger M. escreveu...

Lisa,

Eu tinha esperança. Parva de todo, às vezes. A Tautou nunca me inspirou confiança. Continuo a achar que a Amélie foi um tiro sorte, tipo o Mendes com o American Beauty. Até prova em contrário, tiveram sorte.

Ai o Fiennes, mulher, o Fiennes... Até como Voldemort, até como Voldemort.

Dava, mesmo. É isso que me irrita. A estória tinha tudo para funcionar. Argh! Desperdício.


Filipe,

Não li o Codex. O Código é livro de massas, verdade. Mas não choca o sensacionalismo deste livro. Sempre me parece melhor para os leitores de ocasião do que as romancetas da MRP.

maio 19, 2006 4:20 da tarde  
Blogger Nuno Guronsan escreveu...

Acabei de descobrir que andei pela Amazónia Central ;))

maio 20, 2006 2:41 da tarde  
Blogger M. escreveu...

LOL!

Então tens que me dizer que achaste do filme! :-) A tua opinião sim vai ser isenta.

maio 21, 2006 10:14 da tarde  
Anonymous Anónimo escreveu...

Na Amazónia não andam de tanga? Tá explicado o enredo....


;)
Martini Chic

maio 22, 2006 8:18 da manhã  
Blogger M. escreveu...

Ora aí está um trocadilho bem achado. :-)

maio 22, 2006 7:27 da tarde  
Blogger Nuno Guronsan escreveu...

Duvido que vá ver o filme, M., mas caso algum dos meus amigos que leram o livro me consigam arrastar para isso, irei fazer o comentário no espaço devido ;) E por acaso até gostava de ir até à Amazónia...

maio 22, 2006 7:58 da tarde  
Blogger M. escreveu...

Prontos... :-S Não se pode ter tudo. Pelo menos pedi. Se fores, vou adorar ler. :-)

E a Amazónia também está na lista. Na metade superior. Há-de chegar o dia. Ou melhor... Há-de chegar o saldo bancário, eheheh

maio 22, 2006 10:59 da tarde  

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