30 maio 2006

Miserável

11 Somethin' Else:

Blogger Lisa escreveu...

Miserável, inacreditável, tudo o que lhe queiras chamar.
Até há bem pouco tempo tinha eco do que é ser professor neste país (entretanto reformou-se, bem haja) e a imagem da participação dos pais na vida escolar dos filhos era a de dois extremos: ou se queixavam que os stores não davam educação aos filhinhos (que também não a traziam de casa, mas não faz mal) ou se queixavam do excessivo rigor (tadinho do menino, com tantos trabalhos de casa).
A sério, onde é que isto vai parar?
E, mais importante, assim quem é que pode ter gosto ou vontade de ser professor?

maio 30, 2006 9:57 da manhã  
Anonymous Anónimo escreveu...

bem, gosto ou vontade de ser professor muita gente tem (por isso há tantos à espera de colocação?) são a classe profissional com mais férias durante o ano e são também uma classe que revela muito pouca polivalência no desempenho do seu trabalho. aparte isto, é de facto inacreditável que os pais façam uma avaliação. vai haver tantos factores subjectivos nessa avaliação que nada têm a ver com os aspectos pedagógicos que nem vale a pena citá-los porque o assunto é tão básico que só um ser alheado da realidade poderia conceber uma coisa destas. imagino um socialista de gabinete, licenciado, com um job arranjado para ele quando ele era boy, que está à espera de ser promovido a não-sei-o-quê, sendo que para isso basta (na função pública pelo menos) fazer alguma coisa. vai daí que se essa coisa afectar milhares de pessoas e sair nos jornais, o prestígio público está assegurado e, consequentemente, a almejada promoção. as coisas tendem realmente a piorar...

maio 30, 2006 2:20 da tarde  
Blogger A escreveu...

Hoje foi mesmo um dia impecável para receber boas notícias...

Eu, professora, me declaro.
Não concordo, mas não temo.

Presentemente, e aparte tudo aquilo que se diz sobre os professores, eu sei o que sou e como sou, enquanto professora e enquanto profissional do Ensino neste país.
Devido à minha condição de pessoa que não deixo de ser qdo entro numa escola, sou também um agente de observação do trabalho dos meus colegas. A maioria da classe, merece que se lhe tire o chapéu, porque são incansáveis no desemprenho das suas funções. Incluo-me no grupo que diz "venham eles(pais)" porque depois de se ouvir tanta coisa, depois de termos conhecimento da opinião pública geral e decorrente, não há sindicato nem Lei que temamos. E sinceramente, é muito desmotivante verificar o descrédito que dão à classe dos professores.

Bons e maus profissionais há em todo o lado. Digo eu...

Beijos, M.

maio 30, 2006 4:40 da tarde  
Anonymous Anónimo escreveu...

"sou também um agente de observação do trabalho dos meus colegas. A maioria da classe, merece que se lhe tire o chapéu, porque são incansáveis no desemprenho das suas funções" a tens que me dizer em que paraísos tens andado...

maio 31, 2006 11:40 da manhã  
Blogger Lisa escreveu...

Filipe Leal: tens razão quando afirmas que são a classe profissional (fora os deputados, mas nem vou por aí) que mais férias efectivamente gozam. Também sei que estão ao serviço durante boa parte do tempo de férias escolares, mas isto é apenas uma formalidade: não se têm que apresentar na escola nem desenvolvem, a maior parte das vezes, qq trabalho efectivo naqueles períodos de tempo.

E tb é verdade que, atendendo aos horários praticados, acabam por ganhar mais à hora que qq outro profissional - e nem me digam que trabalham em casa, eu tb e mta gente tb o faz, fora de horas sem pagamento.

Mas a verdade é que a profissão, actualmente, está muito desvalorizada e em grave crise: as condições de trabalho são más, os apoios quase inexistentes, o reconhecimento social uma vergonha.

Quando o nosso primeiro se espantou com o estatuto e prestígio dos professores na Finlândia deveria ter extraído a consequência necessária e questionar-se porque cá não é assim... bom, bastaria olhar com atenção para o nosso parque escolar e para o quase inferno que é ser professor em Portugal...

É uma área que mereceria muito e bom investimento, que isso contribui para qualidade do serviço e dos profissionais. Quem ganharia: os alunos e pais, bem como toda a comunidade.

maio 31, 2006 12:36 da tarde  
Blogger A escreveu...

Felizmente pude constatar a realidade de que falei em muitas escolas.
Acima de tudo, penso que há um grande empenho da grande maioria, caso contrário, seria um caos.
Acreditem.
Para além disso, não tenho de defender seja o que for, a não ser o meu próprio trabalho. Defendo a minha classe, porque acredito nela, acredito na profissão e nos seus profissionais. Há malta muito porreira e muito capaz, e mesmo o professor mais azelha perante turmas de índios mal educados (que são quase todas assim, junto às zonas litorais), merece respeito.
Ao menos, haja esforço.
Claro que há toda uma panóplia diversificada de gente numa escola, os quais não são professores mas "projectos de"; refiro-me a pessoas que tiraram outros cursos, estão a fazer umas horas subjacentes aos seus REAIS empregos, e são na sua maioria engenheiros... muitas vezes, as disciplinas ministradas são (pasmem-se) a Matemática (a tal em que existe um péssimo aproveitamento) e a Educação Visual (a minha área). São pessoas que fizeram a profissionalização em serviço (se é que a fizeram) assim há uns 15 anos atrás e "dá-lhes jeito" aquele dinheiro ao fim do mês. E ainda se riem, qdo há verdadeiros professores no desemprego e de cidade em cidade, que sofrem pela porcaria de vida que (não) têm e sofrem depressões, etc...e ainda têm de ouvir falar mal da sua classe... para não falar das dificuldades económicas que atravessam. Para não falar da vida pessoal que muitas vezes não suporta o amor à profissão.
Eu, no primeiro ano em que dei aulas, tive um ordenado miserável e tive de "pagar para trabalhar" para a contagem de serviço... e ainda cá ando.
Oiço dum lado, oiço de outro, junto tudo e viro-me para os alunos, que são os que menos culpa têm em toda a história.

Quanto às férias, temos 25 dias úteis.
Quanto ao serviço que temos de prestar durante o período de férias dos alunos, não fosse esse tempo, eu queria ver quem é que fazia as festas de Natal na Escola, quem é que enfeitava tudo, quem é que preparava Carnaval, Páscoa e Santos Populares e etc, que até o ano passado no dia em que fiz greve, fi-la a trabalhar na escola. A trabalhar, porque alguém tem de fazer o trabalho.

Ensinar não é tarefa fácil nos dias que correm, educar ainda menos, dado que os pais têm "mais que fazer"; houvesse ordenados mais altos, houvesse condições para os pais poderam gozar mais os filhos e passar tempo com eles, o trabalho nas escolas não seria tão pesado e não haveria tanta violência... é um círculo denunciante dos problemas que se passam no país.
Já para não falar das deficientes condições de trabalho... o quê? Materiais, logística... é que é tanta coisa que não cabe aqui...

Filipe: és professor? É que esta é mesmo a minha realidade. Dar aulas é a minha vocação e acredita que não tem sido fácil...

Beijos

maio 31, 2006 3:42 da tarde  
Blogger A escreveu...

p.s.: Neste momento não estou a ensinar por razões pessoais.
Mas pretendo voltar para o ano. Até que a minha sanidade mental o permita, por tempo mais longo possível.

maio 31, 2006 3:46 da tarde  
Anonymous Anónimo escreveu...

a: a minha formação académica é em comunicação social mas trabalho há 6 anos em projectos de desenvolvimento social e sou formador há 9 anos. faço animação cultural, dou formação e desenvolvo projectos em muitas escolas. conheço bem a realidade. infelizmente , tirando duas excepções, a minha impressão sobre a tua classe profissional não é, de todo, a melhor, principalmente se me reportar aos profs da minha geração (tenho 28) que são de bradar aos céus. ter vocação não basta para desempenharmos bem um papel profissional. quanto às festas e festinhas, posso dizer-te que tive um relacionamento com uma professora (que até era muito boa profissional e dedicada) e sei bem o que digo quando afirmo que são a classe com mais férias. o quê? não podem ir para longe porque há a possibilidade remota de serem chamados para alguma coisa? poupem-me. isso é semelhante ao argumento do "desgastante". todas as profissões o são quando os profissionais são bons. dedicação é não desistir à primeira, é ter a segurança (e daí não bastar a vocação) de que se é bom no que se faz e que se pode dar a volta por cima ao pior dos alunos. continuo a dizer que a culpa é da má interpretação das correntes pedagógicas que se espalharam pelo mundo nos anos 60. ir para casa deprimido não vai mudar os acontecimentos. a vida corre igual quer a encaremos de frente, quer nos escondamos atrás de uma baixa médica, um atestado ou whatever. beijos

junho 01, 2006 1:02 da tarde  
Blogger M. escreveu...

Lisa,

Estou precisamente na mesma situação que tu. A mamy há uns meses que só vive a experiência lectiva em diferido, graças aos céus, senão lá se ia a tensão arterial.

Mas durante anos ouvi estórias de paizinhos que tentavam impugnar professores porque tinham dado um berro à pobre da criancinha e ela ia ficar traumatizada para o resto dos seus dias, impedida pela educadora de se desenvolver como um ser humano pleno e equilibrado.

E ouvi, também, demasiados relatos de jovens docentes, sem qualquer tipo de vocação pedagógica, atirados para a famosíssima via ensino por falência de objectivos de vida e que não passavam de adultos a serem adultos em salas cheias de crianças a serem crianças. Ou pior, de adolescentes a serem adolescentes.

Esta medida parece-me ridícula, hipócrita e facilitista. O nosso sistema de ensino tem problemas gravíssimos, que exigem medidas Santal Rad, a médio prazo. Fazer depender a evolução da carreira dos professores da avaliação dos pais parece-me tão ridículo como pôr os senhores da recolha do lixo a votar os salários dos deputados. Mas essa não decretam eles. Argh!


filipe,

Posso ser sincera? Abaixo dos 40, conheço duas pessoas com vocação pegadógica no sistema de ensino.

Os professores passaram de serem a elite regional que eram no tempo da ditadura a serem uma imensa massa informe de licenciados que na sua maioria escolhe um curso por saber que não é difícil, que as regras do jogo no posterior mundo trabalho estão muito bem definidas e que, depois de uns anitos a sofrer em saltitos pelo país, mais ninguém lhes fode o juízo.

São um exemplo clássico do comodismo inconsequente em que Portugal viveu até ao início desta década.

Reafirmo, o sistema de ensino precisa de uma reforma profunda e corajosa. Mas nunca de uma medida como esta.


a,

Concordo há, de facto, bons e maus profissionais em todo lado. O que aconteceu até agora (e que me parece estar na origem desta medida do Governo) é que havia muito poucas consequências para os professores que fossem maus profissionais.

Gostei de ler a tua paixão pelo ensino, por ser algo que dificilmente encontro nos jovens educadores de hoje.

A medida parece-me perigosíssima. Admiro o teu "venham eles", mas já ouvi demasiadas peripécias kafkianas causadas por pais - que ainda não podiam avaliar professores - para partilhar dessa despreocupação.

junho 01, 2006 2:06 da tarde  
Blogger A escreveu...

Concordo em pleno com a M.
De uma ponta à outra.
Bolas, a mim também me fica mal dizer que a minha classe é valente porcaria, não?... há, sobretudo, que dizer a verdade. E dessa, eu não fujo.
Há por lá(escolas)uns quantos escroques, mas a esses não "passo cartão". Não me compete a mim preocupar-me com eles. As comissões executivas servem para isso. E não são assim tantos.

Sim, M. isto está a precisar de levar uma volta, a começar pelo recrutamento de professores. Não concordo com uma data de medidas, mas não quero explanar a minha opinião aqui, levaria décadas a fazê-lo... o Ensino tem, acima de tudo, um problema grave de que falaste: o comodismo. Tudo causas sociológicas, rebéubéu pardais ao ninho, etc e tal, mas o que é verdade é que esse comodismo é feito de uma falta de vontade de mudar incrível. E mulheres a mais.
:) é mesmo.
Para pessoas como eu, insatisfeitas e de luta, não é fácil. Mas cá estarei.

Filipe, concordo contigo em certa medida, qdo dizes que ir para casa deprimido não resolve nada; o que se passa é que um professor deprimido não ajuda ninguém, não é? Nem a ele nem aos alunos nem aos colegas!!! Nunca se passou comigo; sou demasiado enraivecida e a minha espinha é muito forte, mas vivi casos desses de perto, com colegas...
Professores também são pessoas, também têm vidas. Sou um ser humano que não deixa de olhar para outro. Falar agora de depressões e esgotamentos nervosos?... se se "escondem" atrás de uma baixa médica? Não sei; os casos que conheci foi com pessoas com que realmente trabalhei em parceria pedagógica e não era "tanga" nem "trincheira". Era realidade.

Ah... e não desisti, Filipe; arrisquei noutra área. É o que acontece qdo temos muitos talentos escondidos
;)

Beijos

junho 01, 2006 3:31 da tarde  
Blogger M. escreveu...

:-)

Mulher forte, gosto de te ler. :-)

Beijos.

junho 05, 2006 12:03 da manhã  

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