04 maio 2006

Este é o Mutabazi

Mutabazi Clement. Mutabazi foi encontrado por soldados debaixo de uma pilha de cadáveres. Ninguém sabe o que aconteceu à sua família. Mutabazi vive no orfanato de Tumerere, que cuida de crianças com problemas emocionais sérios.

Mutabazi é uma das caras do genocídio de 1994 no Ruanda.

Não esqueçam a cara do Mutabazi.

Photo copyright, Vanessa Vick

5 Somethin' Else:

Blogger SK escreveu...

O mais espantoso dos discursos dos cronistas da realidade pura e dura, e da adaptação necessária que temos de fazer à mesma, nunca passa por aqui. Gostaria que alguém explicasse a razão pela qual o mundo fica a ver de longe este tipo de acontecimentos, numa posição escorada por diatribes destinadas à necessidade de um parco equilíbrio civilizacional num mundo em crescente ebulição. Mas é a passividade o maior crime da civilização. Pensar que afinal de contas o status quo internacional até justifica a passividade diplomática perante a morte e barbaridade que desafia qualquer filme do Eli Roth.
Obrigado M, por este instante.
E tantos outros. :)

maio 04, 2006 9:26 da manhã  
Blogger M. escreveu...

O Mutabazi não é matéria-prima para diletantes intelectuais. O Mutabazi é sangue, dor, angústia, desespero, ausências, carências, vergonha, lágrimas, raiva. É visceral. É fruto do que de mais feio a humanidade carrega no ventre, é produto dessa maldade intrínseca que esquece na sua voragem espiralada o mundo para além da televisão, do desemprego e do bem-estar social.

O mundo afasta-se do putrefacto. Mantém-se longe do mau-cheiro. É instintivo, nascemos assim e criam-nos para isso.

No Ruanda sabes qual foi a cruel verdade? Eram pretos e não tinham petróleo. Nem oleodutos vindos dos Urrais. Não tinham sequer facção política externa. Eram apenas dois bandos de selvagens, que ocidental nenhum conseguia distinguir um do outro, a lutar à machetada pelo poder de um pedaço de terra miserável. Redutor? Triste, tristemente real. 800 mil mortos.


Obrigada, mas espero que os instantes proporcionados tenham sido, sejam e venham a ser menos cruéis. Fico feliz de ser a vossa eme momentos-kodak ponto. ;-)

(By the way, welcome back to the world of the living.)

maio 05, 2006 3:24 da manhã  
Anonymous Anónimo escreveu...

O que doi é estar-se aqui sentado com esta raiva toda ou pena toda ou ambas e continuar sem fazer nada.
Fotografar, expôr, criticar é já alguma coisa (obrigada, m! e bem mais do que eu acho que consigo), mas é pouco ou muito nada.
sm

maio 05, 2006 5:02 da tarde  
Blogger A escreveu...

... é pouco, mas já é um passo.

Até que saiamos para a rua, ainda que demos as mãos por tantas causas, ainda que se discuta o que se fez e não foi feito... haja a abertura, haja a reeducação, a sensibilização. São passos pequenos, mas são.

A História debate-se tarde demais. Governantes e homens de Poder sentam-se à mesa para comer e degustar o que de melhor a vida lhes pode dar. E esquecem-se. Fazem por isso. A máquina está tão enferrujada e tão podre, que devagar faremos alguma Justiça.
Eu acredito. Ainda...

Beijos

maio 05, 2006 6:39 da tarde  
Blogger M. escreveu...

sm,

Tens razão. É pouco. É como dizia o outro uma mão cheia de nada. Não deixa aquele sentimento gratificante de bondade cumprida. Deixa apenas o vazio da impotência, a inutilidade do esforço.

Mas fica a capacidade de sofrer. De sentir. Essa sim, a grande conquista individual perante o bombardeio da desumanidade. Porque perder a capacidade de sentir é perder a capacidade de reagir. É morrer.

Pode parecer pouco. Mas é infinitamente importante.


a,

Eu também. Acredito sempre. Porque o pior dos cínicos é o mais valente dos crentes. :-) E essa semi ilusão da juventude é algo que não podemos deixar cair.

maio 08, 2006 5:02 da tarde  

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