30 janeiro 2006

Papel com sabor a pele

Terminar um livro sabe a sexo passado. Fechar a contracapa sobre as páginas violadas é como passar as pernas para fora dos lençóis e pousar os pés sobre o tapete que rodeia a cama de um amante que se explorou pela última vez. Sentir entre os dedos o volume maleável das folhas e a suavidade da capa que ganhou lugar na estante equivale a um último roçagar das unhas pelo perfil da barba, um último beijo no ombro adormecido, um último inspirar do cheiro intenso a homem, um último olhar sobre o quarto que a porta deixa para a memória ao fechar-se.

As estórias dos livros povoam-nos como os homens que nos preenchem. É por isso que no final de cada livro se lê um jornal ou uma revista. Para limpar o corpo do toque do último amante, antes de permitir que um novo companheiro nos afague as entranhas. Do livro fechado permanecem a emoção momentânea que causou e os pensamentos que provocou. Uma nova memória, guardada no baú com um sorriso, para logo fazer renascer o prazer de estalar a capa do novo amante, aspirando o perfume das folhas ainda virgens dos meus olhos.

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