30 janeiro 2006

Os pobres marines e os cabrões dos fuzileiros


Gostei, mas soube a pouco. Não é bom nem é mau. Tem pormenores de génio, mas fica aquém. Não chega. Sai-se do cinema a pensar que dava para mais. E está a anos-luz do American Beauty. Começo a achar que o vencedor dos cinco Oscares de 2000 foi um tiro de sorte... Há pormenores Mendesianos que estão lá - a narrativa em off, na primeira pessoa, do personagem principal que inicia e conclui o filme - mas pouco mais há.

Tem o mérito de se basear numa estória verídica e de, ainda assim, não cair nos clichés do choradilho-pós-traumático-e-síndrome-da-guerra-do-Golfo nem da paranóia-anti-Bush-pós-Farenheit. Está tudo lá, quem sabe vê - uma meritória omissão do óbvio. Como quando Swoff chega ao funeral de um Troy que ficamos sem saber como morreu.

Mas a dita omissão do óbvio estende-se à narrativa e Mendes acaba por não explorar nenhum dos fios deste novelo. O filme cai no vazio. No inexplorado. Swoff anuncia-se louco e não comete nenhuma loucura. Há um episódio de tensão entre membros da equipa que desemboca apenas num reforço da veia dramática do personagem principal. O petróleo perfila-se como questão política mas acaba por ter (somente) uma função simbólica.

Nas representações, Jake Gyllenhaal dá consistência a um personagem que, no guião, não a tem. Mas, perdoem-me, quem brilha é Peter Sarsgaard. Jamie Foxx desilude.

Maravilhosa é, inegavelmente, a cinematografia de Roger Deakins, cinco vezes nomeado para o Oscar (The Man Who Wasn't There, O Brother, Where Art Thou?, Kundun, Fargo e The Shawshank Redemption). Será desta?...

O assombro das paisagens, a perfeição da fotografia e a sólida construção imagética do filme a ele se devem. Um deserto dourado, com a luz velada do fogo, que o negro do petróleo em chamas nunca cobre totalmente. As passadas pesadas e temerosas dos jarheads que vão levantando a pura areia branca à medida que trilham o deserto. Momentos esteticamente perfeitos. Esses sim à Sam Mendes.

Máquina Zero não é um filme de guerra. É um filme de armas. De homens-arma. Sobre a norte-americana carne para canhão.


(Photo credits: Universal Studios)

By the way, a foto é da puta da melhor cena do filme! Oorah!

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