23 março 2007

Fotojornalismo

Kevin Carter, Sudão, 1 de Março de 1993 (© CORBIS/Sygma)

Kevin Carter ganhou o Pulitzer, em 1994, com a foto de um abutre que aguarda pacientemente a morte de uma criança sudanesa. Popularizada pela sua publicação na capa do New York Times, essa foto catapultou Carter para a fama e colocou-o incontáveis vezes perante a pergunta dos seus colegas jornalistas: "e depois, o que é que fizeste para ajudar a criança?"
Nada. Carter não fez nada. Disparou a objectiva e voltou costas, seguiu com a sua reportagem. Ainda em 1994, suicidou-se.
John Carlin, um jornalista inglês que cobriu o conflito sul-africano para o The Independent, explica esta semana no El Pais o percurso de Carter e conta como, nestes cenários, se perde a compaixão.
Amanhã, às 21h30, o Canal + (espanhol) transmite o documentário The Death of Kevin Carter: Casualty of the Bang Bang Club (Dan Krauss, 2004).
A pergunta é eterna. Pode o jornalista ser humano enquanto trabalha? É possível abrir o peito ao humanismo enquanto se relatam estórias de guerra, de morte e de sofrimento? É condenável que Carter tenha reposto a tampa na objectiva da máquina e tenha seguido o seu caminho?
A linha é, obviamente, muito ténue. Ninguém terá - acho - o direito de julgar a forma como outro reage perante situações que nós próprios nunca tocámos.
A consciência de Carter foi o seu fim. Para a possível posteridade fica a arte jornalística com que nos deixou e o exemplo de como somos, todos, apenas carne. Impossíveis de prever. Imunes aos "nunca" e aos "para sempre".

1 Somethin' Else:

Blogger APC escreveu...

Essa foto faz muito parte de mim. Lembro-me bem da primeira vez em que a vi. Guardo-a no meu PC e já estive para a "postar". Tenho-a como exemplo limite... Apenas isso: o limite dos limites!... Fico sempre sem palavras. E é, sem dúvida alguma, à parte tudo quanto, um trabalho brilhante!

O meu sitemeter registou uma visita tua ao meu blog, hoje parado, o que muito me agradou.
E é claro que não vou fazer perguntas sobre o facto dos nossos contactos terem rareado, porque estas coisas são mesmo assim.
Deixo-te um grande abraço e votos do melhor!!! :-)

março 23, 2007 8:21 da tarde  

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