02 março 2006

QotD

A paz, se possível, mas a verdade, a qualquer preço. (Lutero)

12 Somethin' Else:

Anonymous Anónimo escreveu...

Olha, e se a verdade (a nossa, com "v" pequeno) só nos traz paz a nós? Não será isso egoísmo?
Vale mais a paz dos outros ou a nossa verdade? Vale mais dormirmos nós descansados com a certeza de que "não mentimos" sabendo que o outro não dorme com a mágoa?
Às vezes penso se a nossa verdade acima de tudo não terá razões escondidas...
Mas claro que esta opinião pertence a um contexto. Apeteceu-me

março 02, 2006 10:38 da manhã  
Anonymous Anónimo escreveu...

tb já acreditei mais nisso... a verdade joga às vezes com o bem e o mal e com outras variáveis. estou sempre à espera q essas variáveis me espetem na cara as minhas verdades, as verdades dos outros e as verdades universais. até lá vou continuando a acreditar...

março 02, 2006 11:34 da manhã  
Anonymous Anónimo escreveu...

Ah! Não era suposto ser anónimo. Era suposto ser eu.
;)
Afinal até concordamos!

março 02, 2006 11:41 da manhã  
Anonymous Anónimo escreveu...

sim? e qual é o espanto? não foi bem a mesma coisa mas pronto, saia a bicicleta...

março 02, 2006 12:08 da tarde  
Anonymous Anónimo escreveu...

:|
Whatever...

março 02, 2006 12:11 da tarde  
Blogger Lisa escreveu...

Se há coisa que a vida me ensinou foi como a verdade é relativa, e que há situações em que, permanecendo verdadeiros para nós, a devemos calar aos outros.
Não minto, mas calo-me.
:)

março 02, 2006 2:07 da tarde  
Anonymous Anónimo escreveu...

omissão? é isso? seguindo aquela máxima de "a palavra é de prata e o silêncio é de ouro"? Quando omitimos propositadamente uma verdade e a dizemos 500 vezes para nós isso não soa a mentira na nossa relação com os outros? não nos sentimos a nós próprios uma mentira?

março 02, 2006 2:56 da tarde  
Blogger Lisa escreveu...

Não necessariamente. Se os outros me pedem que me pronuncie, então lá vai e digo o que tenho a dizer.
Se não me pedem, não digo. Ou só digo se for caso disso, absolutamente necessario mesmo que doa.
Mas a verdade (ou quase verdade) é que a maior parte das pessoas, mesmo que o peça, não quer saber a nossa opinião, nem saber da tal verdade.
E às vezes não vale a pena magoar alguém ou arranjar um conflito pela (nossa) verdade.
Contra o Lutero, ou suavizando o seu raciocínio, cá vou.
A questão é que nada é absoluto, nem a verdade. Valerá a pena perigar a paz da convivência por um desabafo não solicitado?
Nesse aspecto estou de acordo com a Leonor, pode ser um egoísmo e uma inconsequência (acrescento eu) andar por aí a impor a nossa verdade sem cuidar de saber se os outros a querem, ou sequer dela precisam.

E não, não minto por omissão. Calo-me quando não vale a pena a maçada, porque há quem não me mereça sequer o esforço da verdade. Só 'desperdiço' a sinceridade e total franqueza com quem faz por a merecer e a sabe reconhecer.

março 02, 2006 3:15 da tarde  
Blogger M. escreveu...

Gostei. :) Obrigada pelas participações. :) Nada como um tema a roçar o dogmatismo para animar as hostes...

Antes de mais, concordo com a Leonor num ponto, a verdade que está aqui em causa é a "nossa" verdade. Melhor dizendo serão todas as nossas pequenas verdades individuais, aquele conjunto de crenças intímas que acabamos por criar, com base num quadro de referências e de valores, a determinado ponto da vida. Constantemente mutável e, ao mesmo tempo, sempre ajustável aos diferentes percursos de cada um. Essa é uma Verdade (perdoem-me a presunção de assumir assim um dogma) que me é muito caro e que me faz tentar respeitar as verdades alheias sem lhes tentar impôr as minhas. Mas que, ao mesmo tempo, me dá convicções de acordo com as quais ajo. Partamos então desta definição de verdade.

Dizer a verdade, sempre, é uma táctica agressiva. Quem me conhece muito, acusa-me da minha "honestidade brutal". O que não quer dizer que diga todas as verdades que penso. Mas acredito que as verdades são para serem ditas, sempre que possível ou producente. Aqui entra a questão que a Leonor e a Lisa levantam: cuspir uma verdade não solicitada pode ser um puro acto de egoismo. Pode. Foi um mecanismo de auto-defesa que já usei muito para correr com algo que não me interessasse da minha vida - não há nada que afaste tanto como a verdade nua, crua e sangrenta. Há ainda o apelo do choque, o intuitivo "ai é? então ouve lá esta que é para veres!" Em última análise somos todos miseravelmente humanos e temos todos hidden agendas. É, realmente, fácil em momentos emocionalmente muito críticos, despejar a verdade em cima do outro e dessa forma lavar a merda que fazemos.

Mas, como o Filipe, continuo a acreditar na verdade - adequada - a todo o custo. Como navego constantemente num oceano de vontades diferentes, onde me custa sempre muito distinguir o bem do mal [conceitos em que, dado o meu ateísmo, creio firmemente], agarro-me à verdade possível para tentar ser a melhor pessoa que possa. Tenho a teoria - formada sobre factos empíricos - de que as mentiras e as omissões (que, para mim, são bem mais graves do que as mentiras e aí concordo igualmente com o Filipe) acabam sempre por vir à superfície. Entenda-se aqui como omissão o acto consciente de evitar proferir algo que conscientemente sabemos que devíamos verbalizar por estarmos cientes da sua maldade intrínseca e consequente capacidade para provocar dor no outro. (E daqui podíamos partir para a relatividade dos conceitos de bem e mal. Ninguém disse que pensar a vida e o ser humano era fácil... ;) )

Deste ponto de vista, concordo com Lutero: a verdade ponderada, não sendo usada como arma de arremesso, é sempre preferível à mentira. Ainda que daí possa resultar uma batalha.

março 02, 2006 4:54 da tarde  
Anonymous Anónimo escreveu...

"...as mentiras e as omissões (...) acabam sempre por vir à superfície. Entenda-se aqui como omissão o acto consciente de evitar proferir algo que conscientemente sabemos que devíamos verbalizar por estarmos cientes da sua maldade intrínseca e consequente capacidade para provocar dor no outro."

Lá está, nós somos os dias, horas, momentos por que passamos. Eu já acreditei nisso. Agora já não. O que não quer dizer que isso seja verdade. Mas é a minha "verdade".
Se eu olhasse de fora para mim, talvez ficasse triste.
Mas como só eu me conheço inteiramente, só eu conheço a extensão do que/quem sou, não fico. Muitas vezes nem perante nós próprios conseguimos assumir o que é ou não "verdade", quanto mais decidir que essa é a verdade que devemos... impôr a quem está à nossa volta...
Às vezes acho que as verdades que atiramos são "descargas de consciência" ou maldades incoscientes.
Mas como sabes, M, estou a falar de algo muito específico que visto assim pode parecer totalmente sacrílego.
Também eu acredito na verdade (mau era...), mas o conceito é, como dizes, mutável.

março 02, 2006 5:34 da tarde  
Blogger SK escreveu...

Estou com a Lisa e M.
A omissão por vezes é necessária, mas é a tentativa da máxima honestidade, custe o que custar, que tem de estar presente.
A paz sem a tentativa de honestidade é um dente podre, e acabará por doer, mais cedo ou mais tarde, e de forma irremediável.
A verdade sim, mas na estrita medida daquilo para o qual é chamada. Mas sendo-o, deve estar sempre presente. Sempre. Quem não quer saber, não pergunta.

março 03, 2006 9:19 da manhã  
Blogger M. escreveu...

Leonor,

Perfeitamente de acordo. A única certeza será a de que não existem certezas e, logo, todos os conceitos são pessoais e individualizados. Além do mais ninguém será bom juiz em causa própria e o que sentimos apenas a nós diz respeito. :) [Que belo conjunto de clichés que aqui reuni, hein? ;)]


Stephen,

Creio que o que estaria em questão/potencial desacordo aqui seria a expressão da verdade quando não solicitada. O direito/dever de a verbalizar a quem não a pediu.

março 03, 2006 7:02 da tarde  

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