O jazz é feito de notas azuis, um semitom abaixo da música mortal. À mistura com ritmos sincopados, chamada-e-resposta, swings, poli-ritmos e improvisações... Melodias e silêncios que se articulam ao sabor do humor da noite, acompanhados pelas vocalizações dissonantes do scat singing. Se o jazz fosse a minha vida, eu seria o sax tenor que ora nas fileiras de uma big band perdida nas quintas-feiras do Cotton Club.
13 janeiro 2006
O lado de lá dos oceanos
Quando nos devolvem àquela que foi, outrora, a nossa casa, falam-nos de reverse cultural shock, ensinam-nos a ser estrangeirados, treinam-nos nos ardis da reintegração. De fora do acordo ficam sempre as soluções. Aprendemos a re-viver, dia-a-dia, os quotidianos antigos e acreditamos que lutar pela recuperação da rede social de outros tempos vai apaziguar a angústia de perder os pontos cardeais. Mas as raízes estendem-se sempre pela superfície da terra e crescem, desesperadas, pelos jardins alheios numa busca insaciável de solo fértil onde possam penetrar ao encontro de algum húmus, de alguma água. O sentimento de pertença, no entanto, desagua sempre em quem somos. No ego que sejamos capazes de explorar ao espelho. Porque fora de nós apenas há passagens. Breves instantes, mais ou menos fugazes. Nada permanece, ninguém ocupa os lugares vagos. Porque é quando decidimos ficar que todos querem partir. A fuga para a frente é a solução fácil. O retorno nocturno à cama de todos os dias é que é difícil. Como diria alguém que tanto quero, é fácil ser areia e deixar-se levar quando é a pedra que arca com as ondas...
E, se uma certa solidão é, assume-se, incontornável, que este Natal seja pelo menos, acompanhado. Quente. Confortável. Se possível sorridente.
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